Até quando a troca da bilhetagem eletrônica irá prejudicar o consumidor do transporte público?

Opinião: Caso da Viação São Roque, na região de Sorocaba, evidencia esgotamento de modelo de negócios das fornecedores de bilhetagem

Os clientes do transporte intermunicipal das cidades de São Roque, Alumínio, Mairinque e Ibiúna, na Região Metropolitana de Sorocaba, no estado de São Paulo, não conseguem mais usar seus cartões para acesso ao sistema de ônibus da EMTU, conforme noticiado no Diário do Transporte.

A Viação São Roque, responsável pelo serviço, não opera mais na região desde 24 de outubro. Em greve desde 21 de setembro, trabalhadores da empresa exigem o pagamento do ticket refeição. Do início da greve até outubro a Viação São Roque ainda conseguiu manter ônibus em circulação, o que não foi mais possível a partir de outubro.

Diante do ocorrido, a EMTU deu à Rápido Luxo Campinas a concessão da operação em caráter emergencial. E foi aí que os problemas para os passageiros se aprofundaram.

A Viação São Roque usava o sistema de bilhetagem da Transdata. A Rápido Luxo Campinas, por sua vez, usa o sistema da Prodata. Ambas estão entre as maiores fornecedoras de bilhetagem do país.

Com isso, quem possuía cartões de transporte com créditos da Viação São Roque não consegue mais acessar os ônibus da EMTU. É necessário fazer um novo cartão. Mas até mesmo isso não garante a recuperação de créditos.

Bilhetagem tradicional.

Segundo o Diário do Transporte a transferência de créditos ou possibilidade de devolução do dinheiro de cartões da Viação São Roque com saldo não foi confirmada pela EMTU.

Apesar de absurdo, essa situação é comum a cada troca de bilhetagem, quando uma nova empresa assume o transporte público de determinada cidade. As bilhetagens não são compatíveis, pois os sistemas de empresas como Prodata, Transdata, etc. são fechados e proprietários, ou seja, pertencem a essas fornecedoras de tecnologia e têm o desenvolvimento limitado por parte de empresas.

É uma estratégia de mercado que limita a concorrência e o livre desenvolvimento de novas soluções.

No fim, empresas de transporte estão presas a seus sistemas de bilhetagem e quando uma situação como a citada nesse artigo acontece quem paga é o consumidor final, que precisa enfrentar filas para retirar um novo cartão e ainda corre o risco de perder todos os créditos que possuía.

Mas há luz no fim do túnel. Já existem empresas pensando em uma bilhetagem digital, que não dependa exclusivamente de um cartão e que utilize sistemas abertos, como o Android, para permitir flexibilidade e autonomia para empresas de transporte.

No mundo hiper conectado de hoje, com a concorrência na mobilidade tomando proporções nunca vistas, não é possível que o transporte público continue a apresentar uma experiência ao cliente falha e onerosa.

Esse texto é opinativo e de livre responsabilidade do autor.

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