Transformação digital: mais uma corrida que os carros estão largando na frente do transporte público

“Se o transporte público não se adequar, nem um serviço 100% gratuito irá salvá-lo”, diz Luiz Renato M. Mattos, CEO da ONBOARD

A transformação digital nas empresas tomou um ritmo acelerado durante a crise e especialistas já apontam que estamos vivendo a era da “Indústria 4.0”, ou “Indústria do futuro”. A previsão para essa nova era é a integração de tendências e tecnologias disruptivas, como inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), Big Data, dados em nuvem e entre outras. No entanto, para aproveitar a tendência da melhor forma possível, é necessário que empresários e executivos evoluam suas formas de pensar para as novas dinâmicas do mundo moderno e percebam a rapidez com que as três novas revoluções – tecnológica, social e de informação – estão impactando nos comportamentos de consumo. 

Hoje, uma área que tende a ganhar muito com as inovações tecnológicas é a mobilidade urbana, a partir de um novo olhar para o planejamento do ir e vir das cidades. Isso complementa com o fato do Brasil possuir o maior mercado de TICs da América Latina, aumentando ainda mais a probabilidade de crescimento e sucesso. Todavia, sendo o transporte coletivo o principal meio para uma mobilidade positiva nas cidades, as montadoras de veículos particulares é quem estão largando na frente – fato que preocupa especialistas, pois, mesmo que 40% das pessoas não possua um carro (em decorrência do poder de compra), eles têm se tornado cada vez mais comuns nas vias a partir dos aplicativos de corrida e compartilhamento de viagens

Essa tendência já aponta para os novos padrões de consumo, consumidores com consciência ambiental e que buscam por informações rápidas para planejamento de viagens. Carlos Guedes, em entrevista ao Agora é simples, compartilha sua visão como empresário de ônibus e fala sobre os impactos da pandemia no setor de transporte público e alternativas para inovação e transformação digital necessárias nesse momento.

Outros especialistas como Eduardo Peixoto, CDO do Cesar, centro privado de inovação, aponta que “Em alguns anos pouco vai importar ao consumidor em qual carro ele se desloca. […] Vai conseguir gerar valor quem tiver proximidade com o cliente”. E a líder da área de carros do Google Brasil, Juliana Yamana, prevê que não importará mais o status de possuir um carro e sim como chegar do ponto A ao ponto B. 

Com isso, o artigo de hoje vem com a proposta de entender melhor como as montadoras estão se transformando digitalmente para não perder mercado e manter ativo o desejo pelo uso do carro, que é o principal concorrente do transporte coletivo. O artigo compreenderá como as empresas estão fazendo isso e como o setor de transporte público pode aproveitar o embalo.

Montadoras de veículos apostam na experiência do cliente para transformação digital

Os carros estão se tornando plataformas de serviço, suportados por software, sensores de internet das coisas (IoT), robôs com inteligência artificial e outras tecnologias digitais. Especialistas já indicam a tendência em carros mais conectados, compartilhados e eletrificados e, com isso, fabricantes entendem que a digitalização e automação dos processos de negócio são fundamentais para enfrentar a competição no novo cenário. Enquanto antes as empresas se preocupavam com montagem eficiente, hoje as atenções estão voltadas ao cliente.

Recentemente, a Volkswagen anunciou que está colocando os carros elétricos na nuvem, transformando “o carro em um software“, o qual poderá ser constantemente atualizado fazendo com que se torne uma central de serviços, permitindo o compartilhamento de dados e integração do software no veículo com a experiência digital do cliente. 

A FCA (Fiat Chrysler Automobiles), conglomerado industrial ítalo-americano que junta as marcas Fiat e Chrysler, foi uma das corporações que estava entre os fundadores da indústria automobilística europeia. A transformação digital na empresa está estruturada em cinco frentes:

  • Digital Manufacturing (manufatura digital);
  • New Digital Business (novo serviço digital)
  • Customer Engagement and Commercial (engajamento do cliente e comercial); 
  • Digital Backoffice (digitalização de processos internos); e 
  • Connected Services and Vehicles (serviços e veículos conectados). 

De acordo com André Souza, CIO da FCA, a revolução só será bem sucedida se estiver centralizada em melhorar a experiência do cliente. 

O carro está virando uma plataforma tecnológica conectada, cada vez mais autônoma e elétrica, associada a um cliente mais digital, informado e exigente, que busca experiências fluidas (dentro e fora do carro) e novos modelos de negócio associados à mobilidade.”

diz Souza ao Automotive Business. 

Do outro lado, enquanto a Ford encerra as atividades da fábrica em São Bernardo do Campo, a companhia aponta estar trabalhando para ampliar seu patrimônio digital ao melhorar processos e criar soluções para aprimorar a jornada do consumidor. Um dos exemplos é o FordPass, plataforma desenhada para oferecer comodidades aos clientes, como o agendamento de serviços na rede de concessionárias. Além disso, a empresa aposta no uso de realidade aumentada para fazer o diagnóstico dos problemas do carro e prestar assistência técnica remota ao veículo, além do uso de robôs para automatizar processos internos. 

A utilização de ferramentas virtuais para fazer a validação on-line de novos produtos em processos de desenvolvimento também é uma tendência. A tecnologia proposta pela Ford permite simular o ruído, vibração, durabilidade, consumo de combustível e muitos outros aspectos do uso do carro, reduzindo o tempo e o custo do processo. 

Já a transformação digital na Mercedes-Benz se baseia em uma revolução de cultura e de abordagem do mercado. Nos últimos anos, a empresa investiu na modernização das fábricas e em ações internas, construindo uma fundação para aplicar agora uma série de conceitos, como machine learning, analytics e big data. Além disso, apostou em sistemas de conectividade em caminhões com o sistema FleetBoard e na plataforma TruckPad, startup em que a montadora detém o controle minoritário que conecta transportadores autônomos com a demanda por transporte de carga.

Contudo, as montadoras entendem que a era digital tem transformado as formas de trabalho e isso traz a necessidade de investimentos na atualização de profissionais. Para enfrentar o novo cenário, a GM, por exemplo, reformulou em 2019 os treinamentos de liderança e está utilizando mais recursos digitais para envolver profissionais nos treinamentos. A montadora está se aproximando também das universidades para identificar talentos de alto potencial, que possam contribuir com a sua transformação.

“A transformação digital está atingindo todas as áreas, desde o desenvolvimento do produto, processos produtivos e até a forma de vender veículos, treinar e se comunicar com as pessoas.”

segundo Marcellus Puig, vice-presidente de recursos humanos da Volkswagen do Brasil e América do Sul, ao Automotive Business.

Ainda, a Renault do Brasil tem apostado no projeto K-Commerce, desenvolvido pela SAP. A inovação ataca na solução para vendas online personalizadas do carro Kwid para o público jovem, que integra 15 sistemas da montadora. A ferramenta oferece previsão de entrega, levando em conta a localização do cliente e o tempo de transporte para a concessionária.

Essa facilidade em comprar um carro torna o setor automobilístico muito mais atraente. Em meados de 2020, o Agora é simples abordou como hoje é mais fácil comprar um carro do que emitir um bilhete para andar de transporte público. Em termos de mobilidade, isso pesa muito, pois o transporte público é a coluna vertebral de todo projeto de mobilidade.

Como as montadoras têm superado os desafios da transformação digital?

Com os desafios da indústria aumentando a cada dia, há uma busca incessante por aumento de desempenho e flexibilidade, que se traduz em pressão por custo, constantes mudanças de produtos e variação na demanda. Além disso, empresas destacam os obstáculos da extensão e complexidade da cadeia produtiva, que inclui empresas com diferentes perfis e com potenciais particulares de se adaptar às novas demandas, além dos desafios comuns como questões de infraestrutura e tributação complexa e elevada.

Com isso, as corporações têm buscado parcerias com startups para impulsionar suas inovações. Dessa forma, a tendência são resultados além do esperado e margens de lucro maiores e duradouras em razão da dificuldade de cópia, tudo isso com baixo investimento e alta velocidade. Esse fenômeno, denominado Corporate Startups Engagement (CSE), engajamento corporativo de startups, em tradução livre, já é reconhecido como estratégia vencedora em muitas corporações americanas e europeias.

Assim, organizações inovadoras têm se empenhado nesse caminho e os mercados têm recebido essas parceiras positivamente, o que se materializa na valorização de suas ações. Plataformas como a 100 Open Startups, que atuam no matchmaking para inovação entre empresas, startups, comunidade científica e investidores, têm ganhado cada vez mais mercado. Em sua 5ª edição em 2020, com mais de 13 mil inscrições, as startups mais atraentes para o mercado corporativo foram destacadas e, na categoria de Mobilidade, a ONBOARD foi destaque, sendo a única com foco em transportes públicos no ranking.

Como o setor de transporte público pode se preparar?

O segredo para uma inovação bem sucedida não se resume apenas em investimentos financeiros. A pesquisa, análise e testes são as verdadeiras bases para aplicação de qualquer nova metodologia, e é o que aponta Luiz Renato M. Mattos, CEO e Cofundador da ONBOARD,  em entrevista

“O papel da era digital no transporte público é colocá-lo em pé de igualdade do ponto de vista de experiência, qualidade e conveniência com o que a sociedade espera hoje de qualquer produto ou serviço. Se o transporte público não se adequar a isso, nem um serviço 100% gratuito subsidiado completamente pelo governo irá salvá-lo”

segundo Mattos.

Além disso, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Google, a informação digital é a etapa mais importante no fluxo para tomada de decisão. O objetivo desse novo sistema é conectar processos, obter dados e disparar informações sobre os transportes em tempo real, melhorando a experiência do cliente, principalmente com relação aos serviços públicos.

Segundo o Infobase, cerca de 75% dos cidadãos das grandes cidades brasileiras optam por planejar suas rotas diárias através de aplicativo, já havendo demanda pelo serviço digital, além da busca por novos meios de pagamento, facilidade no atendimento, segurança durante deslocamentos e outras tendências que ainda irão surgir. Ou seja, se o setor de transporte público continuar nesse ritmo, as perdas poderão ser maiores, cabendo às novas licitações uma nova abertura aos avanços tecnológicos e que possam ser implementadas novas ideias para melhoria do setor, não havendo barreiras nos contratos como acontece hoje em dia.

A ONBOARD tem atuado ativamente na transformação digital do setor de transporte público e auxiliando empresas com tecnologias e inovações de ponta para manter a competitividade do setor. Assim, em parceria com o Consórcio Ótimo em Belo Horizonte, o Diretor de Tecnologia e Modernidade, Carlos Guedes comenta sua experiência com a empresa.

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Referências

Estadão – Mobilidade. A hora e a vez do veículo elétrico no Brasil. Disponível em: <https://mobilidade.estadao.com.br/mobilidade-para-que/a-hora-e-a-vez-do-veiculo-eletrico-no-brasil/>. Acesso em: 19 de março de 2021.

Índice de Mobilidade Urbana – Deloitte 2020. Disponível em: <https://www2.deloitte.com/us/en/insights/focus/future-of-mobility/deloitte-urban-mobility-index-for-cities.html>. Acesso em: 22 de março de 2021.

Infobase. A transformação digital na mobilidade urbana. Disponível em: <https://infobase.com.br/infografico-transformacao-digital-na-mobilidade-urbana/>. Acesso em: 18 de março de 2021.

Transformação digital. Revista Automotive Business. Disponível em: <http://www.automotivebusiness.com.br/revistasabpdf/RevistaEd56.pdf>. Acesso em: 23 de março de 2021.

O futuro da mobilidade urbana está na integração. Valor. Disponível em: <https://valor.globo.com/patrocinado/deloitte/impacting-the-future/noticia/2019/11/11/o-futuro-da-mobilidade-urbana-esta-na-integracao.ghtml>. Acesso em: 24 de março de 2021.

Riscos e Oportunidades para as micro e pequenas empresas brasileiras diante de inovações disruptivas: Uma visão a partir do Estudo Indústria 2027. Disponível em: <https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/1c/45/1c4559d3-4ee2-4977-963e-e8113950393b/id_232324_riscos_e_oportunidades_web.pdf>. Acesso em: 19 de março de 2021.

Redação Agora é Simples

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