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Artigo assinado pelo Pro Coletivo, blog parceiro de conteúdo, especializado em assuntos da multimodalidade.

A preocupação com o transporte coletivo no pós-Covid

A pandemia foi o gatilho que faltava para evidenciar a dimensão e relevância do transporte coletivo nas cidades

O transporte coletivo foi um dos setores que mais sofreram com a pandemia de Covid-19, e não foi só no Brasil. Nas cidades europeias houve uma queda de mais de 90% no número de passageiros durante meses.

As operadoras de transporte tiveram que reduzir a oferta de veículos. Em conjunto, medidas rígidas de higiene e de controle de passageiros foram implantadas em ônibus, trens e metrôs, além do uso obrigatório da máscara. 

Para Francisco Christovam, assessor especial do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) e membro da ANTP e da NTU, o transporte coletivo de passageiros é, além de essencial e estratégico, o serviço público que viabiliza os demais serviços de utilidade pública. Além de tornarem viáveis o funcionamento das cidades e o dia a dia das pessoas.

“Sem o transporte, a maioria das pessoas não chega ao local de trabalho, não se desloca até a escola, não acessa o médico ou o hospital, e não chega até as lojas ou ao supermercado. Sem o transporte, as pessoas entram em isolamento – palavra da moda – laboral, social e vivencial.”

– Francisco Christovam.

Por isso, o grande receio de Christovam é que não haja a garantia da prestação desse serviço público vital com a melhor qualidade possível e com custos razoáveis.

“Não há mais porque relegar o transporte coletivo de passageiros a um plano secundário e tratá-lo muito mais como um negócio de empresários privados do que como um direito do cidadão e um dever do Estado. Ele é essencial e pode deixar milhões de pessoas sem condições de poder exercer o seu direito de ir e vir e de contribuir para que a economia do País também não entre em colapso, como poderá acontecer, eventualmente, com a saúde pública.”

– diz Christovam.

Na opinião do especialista, não há como negar que a crise provocada pelo coronavírus foi o gatilho que faltava para despertar nas autoridades governamentais a real dimensão e a relevância do transporte coletivo de passageiros.

“Neste ano, com a realização das eleições municipais, é o momento de transformar promessas de campanha em projetos estruturados para o transporte coletivo. Um país sem transporte coletivo de qualidade não é um país decente. Ele é o grande bem das cidades eficientes, modernas e desenvolvidas em todo o mundo”.

– afirma o especialista.

Publicado originalmente em Pro Coletivo.

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.

O Plano Nacional de Eletromobilidade

Aumento na procura por veículos elétricos e os planos de dirigentes públicos e empresarias relacionados à eletromobilidade e sustentabilidade ambiental

A ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) divulgou recentemente seus dados de vendas de veículos elétricos (carros, ônibus e modais da micromobilidade) e os resultados são animadores: no mês de junho eles retomaram o ritmo do final de 2019, aumentando em 86% em relação ao mesmo mês, no ano passado.

Com nova diretoria, a associação pretende lançar as bases de um Plano Nacional de Eletromobilidade, com ações junto ao poder público e diálogos com as empresas e a sociedade. Segundo Alexandre Polesi, da ABVE, a mudança de gestão tem especial significado, pois ocorre num momento de crescimento das vendas. 

O novo presidente da ABVE é Adalberto Maluf, diretor da BYD e um dos mais respeitados ativistas da eletromobilidade e sustentabilidade ambiental do Brasil. Entre as frentes da associação, constam a participação intensa na Plataforma Nacional da Mobilidade Elétrica (PNME), formada por técnicos do Ministério da Economia, BNDES, ABDI, dirigentes públicos e dirigentes empresariais, sob coordenação do GIZ (agência de desenvolvimento econômico do governo alemão), para lançar as bases de um Plano Nacional de Eletromobilidade.

Há também a criação de uma nova área de mobilidade urbana, com propostas de integração entre todos os modais de transporte nas grandes cidades, em bases sustentáveis, grupo coordenado pelo urbanista Flamínio Fichmann. E um acordo com o Instituto de Engenharia de São Paulo para produzir, em conjunto, eventos, lives e conteúdo inédito sobre mobilidade elétrica.

No caso dos ônibus elétricos, em operação no Brasil há alguns anos, uma empresa de destaque é a Eletra, pioneira no desenvolvimento de tecnologia de tração elétrica no país. Ela lançou no final de 2019 o DualBus, o primeiro ônibus elétrico híbrido com tecnologia brasileira. O ônibus é alimentado por duas fontes de energia – um banco de baterias e um grupo motor-gerador a biocombustível.

São realizações importantes, especialmente nesse cenário pós-Covid-19, em que o mundo se organiza para melhorar a qualidade de vida nas cidades, desenvolvendo modais ativos e também sustentáveis. 

Em São Paulo, a Lei Municipal nº 16.802, de 2018, estabeleceu que os veículos de transporte público devem reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em 50% no prazo de 10 anos, e 100% em 20 anos.

Publicado originalmente em Pro Coletivo.

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Calçadas não podem ser ciladas

Os obstáculos ao caminhar pelas ruas de cidades brasileiras e a campanha de mapeamento de calçadas

A foto acima mostra uma rua em um bairro considerado “nobre” em São Paulo, o Jardim Europa, mas a calçada não é nada chique. Mal dá para uma pessoa passar ali, ainda mais se estiver acompanhada ou empurrando um carrinho de bebê.

Cerca de 41% das calçadas em São Paulo não têm a largura mínima exigida por lei, de 1,90 m de largura. Nesse espaço, 1,20 m deve ser livre para a passagem e os outros 70 cm são considerados “faixas de serviço”, onde ficam postes, lixeiras etc.

Mais que um desafio, é uma triste aventura caminhar pelas calçadas de São Paulo (especialmente na periferia) e de outras cidades brasileiras: obstáculos, buracos, postes, irregularidades diversas, lixo e um espaço mínimo para o pedestre – quando ele existe. 

É para garantir a melhoria das calçadas, nosso primeiro contato com o espaço público, que surgiu em 2014 a campanha #CalçadaCilada, da organização Corrida Amiga.

“De forma participativa, por meio do engajamento da população, estamos mapeando neste ano calçadas no entorno de hospitais e escolas, reforçando a urgência de termos boas vias para caminhar. Essa importância ficou ainda mais evidente por conta da pandemia e da necessidade de distanciamento físico. Estamos falando de futuro, mas buscando resolver os problemas do passado e do presente, com soluções já existentes e muito possíveis.”

– Silvia Stuchi, idealizadora da ONG Corrida Amiga. 

“Em algum momento do dia, todos somos pedestres e acessaremos as calçadas”, lembra Silvia, destacando que a campanha hoje já conta com 440 respostas, vindas de pessoas de 60 cidades. 

A qualidade das calçadas torna-se ainda mais urgente quando sabemos que a maior parte da população brasileira utiliza o transporte a pé e o transporte coletivo diariamente. Cerca de 40% dos brasileiros se deslocam exclusivamente a pé e 28% dos deslocamentos diários são feitos por modais coletivos, que sempre incluem um trecho a pé, representando 68% do total dos deslocamentos diários no país.

“Cerca de 130 milhões de pedestres se deslocam diariamente pelas ruas do Brasil, na maioria das vezes em calçadas irregulares, sem acessibilidade e/ou sem a sinalização adequada para o pedestre”

– ressalta Silvia.

Para participar da Campanha Calçada Cilada, mapeando problemas nas calçadas por onde anda, é só baixar gratuitamente o aplicativo @colabapp e localizar a Consulta Pública da Calçada Cilada 2020.

Publicado originalmente em Pro Coletivo.

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As cidades de 15 minutos

A ideia de “centros” nos bairros e edifícios com funções múltiplas promete facilitar a vida das pessoas

Já pensou em viver numa cidade em que tudo fica a 15 minutos de distância a pé? Os serviços essenciais, os principais eixos de transporte coletivo, os parques, as opções de entretenimento, o comércio, os escritórios…

Isso não é sonho e faz parte do conceito criado pelo cientista franco-colombiano Carlos Moreno. No sistema que desenvolveu, e que tem encantado urbanistas, arquitetos e gestores mundo afora, os moradores têm acesso a tudo o que precisam a apenas 15 minutos de caminhada. 

Para Moreno, especialista em “cidades inteligentes” e cientista da Universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne, as áreas urbanas podem ser redesenhadas para que os serviços básicos estejam próximos dos habitantes. Assim, em vez da cidade com uma única região central, a urbanização deve ser feita com “centros” nos variados bairros, que contam com serviços de saúde, de educação, comerciais, industriais e administrativos. Ele aposta em edifícios com funções múltiplas, com moradias, escritórios e comércio. Isso reduz bastante o tempo de deslocamento e facilita a vida das pessoas.

“Fruto das minhas pesquisas, a cidade de 15 minutos traz qualidade de vida, algo que não existe nas metrópoles onde as pessoas gastam seu precioso tempo em longos trajetos”, afirma o cientista.

“Queremos fazer das ruas não um lugar para carros, mas um espaço para pessoas. Que caminham, pedalam e vivem”.

cientista Carlos Moreno.

Além de favorecer a saúde, essa transformação melhora o meio ambiente, pois tira os carros das ruas. Afinal, tudo pode ser feito a pé ou de bicicleta no próprio bairro, evitando deslocamentos desnecessários. 

Se aqui no Brasil essa ideia parece utópica, lá fora já é uma realidade. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que foi reeleita no final de junho, adotou com tudo a tese de Moreno, buscando uma capital mais inclusiva e saudável.

Na cidade em que 54% das viagens são feitas a pé, a prefeita lutou para ampliar as calçadas e aumentar a rede cicloviária – que hoje conta com 1.000 km e permite atravessar a cidade –, facilitou o acesso a bicicletas elétricas e está reduzindo 72% das vagas de carros para dar mais espaço para ciclistas e pedestres.

Anne Hidalgo, prefeita de Paris, adotou a tese de Moreno e ampliou calçadas e rede cicloviária da cidade.

Para Carlos Moreno, seis pontos são indispensáveis para viver bem nas metrópoles do século 21. São eles:

  1. Morar com dignidade;
  2. Trabalhar em boas condições;
  3. Ter acesso à saúde;
  4. Acesso à educação;
  5. Acesso à diversão; e
  6. Acesso aos produtos necessários para viver.

E essa qualidade de vida acontece quando se reduz a distância para alcançar esses parâmetros. Algo que ainda é muito distante da realidade brasileira, mas que deve ser considerado e trabalhado o quanto antes, para que as próximas gerações vivam melhor e com mais saúde.

Publicado originalmente em Pro Coletivo.

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.