Metrópoles dos EUA e Europa apresentam a mesma queda no número de passageiros constatada no Brasil.
A acentuada queda no número de passageiros transportados por ônibus no Brasil se estende pelo mundo. Por aqui, entre 2012 e 2017 17% dos usuários deixaram de usar ônibus, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU).
Em Nova York, maior cidade dos Estados Unidos, 176 mil pessoas deixaram a rede pública de transporte (que inclui, além dos ônibus, o metrô, trens, VLT e outros) por dia. No total, as cidades americanas perderam 2% dos passageiros diários de transporte público em 2018 de acordo com a APTA (Associação do Transporte Público Americano). Quedas se repetem em grandes cidades como Los Angeles e Chicago.
Londres, por sua vez, manteve um número próximo e deixou de transportar diariamente 106 mil pessoas.
Os ônibus, como mostram os dados, são os mais afetados. Algo que acontece também no Brasil, pois a queda no número de passageiros relatada no início do texto não se estende à malha ferroviária: o transporte sob trilhos teve alta de 21% em passageiros durante 2018, número alavancado pela execução de ampliamentos e lançamento de novas linhas, ainda que de maneira devagar.
As causas para as diminuições de demanda são diversas, tanto aqui no Brasil como nos Estados Unidos ou Europa. Maior preocupação com a qualidade de vida de seus funcionários por parte das empresas, que estimulam o home office, incentivo ao uso do transporte individual, sobretudo no Brasil, além da chamada “micro mobilidade”, que inclui patinetes e bicicletas alugadas.
Tudo isso, porém, gera para o transporte público o ônus de lidar com as viagens mais longas – até as periferias – e que são as mais custosas, enquanto as viagens curtas que pagam esses deslocamentos distantes acabam ficando nas mãos da micro mobilidade, de carros compartilhados ou até mesmo do andar a pé.
Para Edmundo Pinheiro, presidente da HP Transportes “De modo geral, as viagens curtas e médias ajudam a equilibrar o custo das viagens longas. A perda dessas viagens menores, que estão indo para aplicativos e bicicletas, gera ainda mais desequilíbrio.”
Essa tendência leva o transporte público a um ciclo vicioso: menos pessoas andando, menos dinheiro em caixa, menos investimentos em melhoria, menos atrativo fica o transporte, menos pessoas andando…
Dessa forma, empresas de transporte e prefeituras do mundo todo buscam opções para gerar novas receitas ao transporte, evitando que o preço da passagem seja o único indutor de investimentos e, por consequência, transforme quem ainda usa o transporte público no único responsável pela prestação dos serviços.
A HP Transportes, que atua em Goiânia, lançou recentemente um serviço de vans sob demanda. Sendo solicitado pelos usuários, as vans só circulam com passageiros e toda viagem se paga sozinha. Com receitas de serviços paralelos como esse empresas de transporte esperam reverter a lógica negativa atual e bater de frente com grandes players, como Uber.
“No futuro, a receita desse serviço poderá ajudar a custear o sistema”, afirma Edmundo Pinheiro, em entrevista à Folha.
Outro ponto é a integração de diversos modais, tanto em cidades próximas nas Regiões Metropolitanas, como em conjunto ao modais recentemente disponíveis. A prefeitura de São Paulo publicou edital em que prevê a digitalização do Bilhete Único e, com isso, abre-se margem, por exemplo, para que o mesmo bilhete digital seja usado no metrô ou numa bicicleta.
O caminho, entretanto, passa por diversos agentes que precisam estar interessados na integração e melhoria constante dos serviços.
Para saber mais:
O que falta para termos um sistema de transporte público que atraia os usuários?