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Maior fabricante de bicicletas prevê queda nas vendas

Aumento na procura por bicicletas, os impasses na maior fabricante do mundo e a reestruturação das cidades para priorização de pedestres e ciclistas

Foto: Kara.

A procura por bicicletas aumentou muito durante a quarentena, as pessoas começaram a buscar mais saúde e segurança em seus deslocamentos e novas formas para evitar o transporte público. Como resultado, a demanda por bicicletas foi tão grande que as empresas começaram a ter escassez do produto.

Além da maior demanda, a escassez também está relacionada com impasses nos locais de fabricação. A maior fabricante no mundo é a Giant, com sede em Taiwan. No entanto, devido a alta infestação do novo coronavírus na China, a produção foi interrompida durante alguns meses.

Somando-se à crise, parte da fabricação era destinada aos Estados Unidos e União Europeia e, diante de taxas impostas por esses países, boa parte da produção passou para a base da empresa. Assim, enquanto a demanda por bicicletas dava um salto, a produção se manteve limitada em Taiwan.

Porém, de acordo com Bonnie Tu, presidente da Giant, apesar da alta demanda pelo produto, a empresa ainda não está convencida sobre a procura no pós-pandemia. Isso embasa a decisão de não aumentar os investimentos.

“Todo boom termina algum dia, é apenas uma questão de rapidez ou lentidão”

Bonnie Tu, presidente da Giant em entrevista ao New York Times.

Em contrapartida, cidades atuam na proposta de redução de automóveis nas ruas e propõem melhorias para pedestres e ciclistas. O momento atual trouxe a importância do espaço para as pessoas, principalmente quando se pensa no desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, seguras e integradas.

Com isso, alguns lugares já estudam a proposta de transferência do espaço de carros para a construção de ciclovias. Em 2016, a cidade de Toronto substituiu o estacionamento na rua por uma ciclovia ao longo de um trecho de 2,4 km e um estudo piloto avaliou as mudanças.

No estudo, pesquisadores identificaram mais pontos positivos do que negativos com a mudança. Quando o estacionamento na rua é convertido em ciclovias em áreas urbanas com andares térreos comerciais, a atividade econômica como um todo permanece tão forte quanto antes, muitas vezes mais forte.

Além da economia, as razões para a mudança na infraestrutura das cidades contribuem para maior segurança, mais espaço público, menos poluição e maior contribuição no uso de modais ativos. Exemplo disso aqui no Brasil é o Plano de Mobilidade Ativa no Distrito Federal (PMA/DF).

Com tantas iniciativas sendo implementadas durante esse momento ímpar da humanidade, talvez o boom das bicicletas não caia assim tão rápido como espera a Giant, e sim, permaneça no pós-pandemia.

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Pode andar de bicicleta durante quarentena?

A procura por bicicletas aumentou, as pessoas buscam mais saúde e segurança em seus deslocamentos

A compra e aluguel de bicicletas aumentaram em todo o mundo. Esse movimento foi percebido quando europeus começaram a utilizar as bicicletas para evitar o contágio da Covid-19 durante a retomada das atividades, houveram incentivos para compra e ampliação das ciclovias em todo o continente.

No Brasil, mesmo sem políticas públicas específicas, a Semexe, startup que possui uma plataforma online para compra e venda de equipamentos novos e usados de bicicleta, anunciou um aumento de 291%  nas transações de junho de 2020, se comparado a fevereiro, um mês antes de decretada a pandemia. As vendas atingiram 23 dos 27 estados brasileiros. 

A procura no Google por “andar de bicicleta na quarentena” aumentou desde março, segundo análise no Google Trends.

“Se as pessoas se sentirem mais seguras para se deslocar nas cidades de bike, se tiverem mais opções de ciclovias, se empresas oferecerem estrutura para banho em suas sedes, mais gente vai entrar nessa onda e aí não terá mais volta.”

– Rafael Papa, um dos sócios da Semexe, para O Globo.

Além do benefício relacionado à saúde e bem-estar, andar de bicicleta tem se tornado uma alternativa para evitar o uso do transporte público, sendo, a bicicleta, o meio de locomoção mais seguro no momento, segundo especialistas. No entanto, para oferecer segurança aos ciclistas, é necessário uma mudança efetiva no desenho das cidades.

“… para que o cidadão médio brasileiro adote cada vez mais o modal, é essencial que o poder público enxergue os benefícios da bicicleta e a inclua em suas políticas públicas de forma mais efetiva.”

– Cyro Gazola, presidente da Caloi e vice-presidente da Abraciclo, para O Globo.

Em maio de 2020, levantamento da Bike Itaú apontou que a maior parte dos ciclistas (87%) utilizam o meio por se sentirem mais seguros em relação ao contágio do novo coronavírus, mais da metade usa o sistema de aluguel de bicicletas para ir e voltar do trabalho, e,  em média, 90% das pessoas pretendem continuar a usar o meio após a quarentena.

No entanto, o fato do uso de bicicletas apresentarem menos riscos de contaminação do que o transporte coletivo, não significa que seja totalmente seguro. É necessário manter uma distância segura ao pedalar maior que 2 metros de outras pessoas, evitando a inalação ou contato de gotículas. Ainda, segundo especialistas, quando se anda de bicicleta a 29 km/hora, o ideal é manter 20 metros de distância dos demais à sua volta.

Embora a prática de exercício seja desejável para evitar o sedentarismo e outras doenças, a professora de Educação Física Goreti Seabra recomenda cuidado na intensidade da pedalada, visto que, com um treino exagerado, o corpo pode ficar com baixa imunidade demorando para se recuperar, o que acaba abrindo portas para o vírus.

Perda no transporte público pode ser definitiva

Com uma alta diminuição no número de passageiros, a troca do transporte público pela bicicleta pode ser definitiva. O movimento pressiona a ajuda do Estado à empresas de transporte público e torna ainda mais essencial a adoção de novos modelos de financiamento para recuperação de sistemas públicos de mobilidade. 

Esse efeito atinge em cheio as empresas de transporte, que já anunciam demissões e falência. O diretor institucional do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Campina Grande (SITRANS), Anchieta Bernardino, anunciou nesta segunda-feira, 3 de agosto de 2020, que empresas do setor poderão encerrar suas atividades nos próximos dias e demitir centenas de trabalhadores.

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