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Eleições 2020, estrutura do transporte & mais – Não durma no ponto!

As principais notícias da última semana em uma leitura rápida e informativa. Comece a semana conectado no mundo. Não durma no ponto!

Já faz mais de uma semana que não nos vemos, aconteceu tanta coisa! A mais importante que venho anunciar é o início das eleições.

Para fins de informação, lembramos que o primeiro turno será no dia 15 de novembro de 2020. Nos locais em que houver segundo turno, o evento ocorrerá no dia 29 de novembro.

Assim, lembrando também que o transporte é um direito previsto na Constituição Federal e um serviço garantido pelo poder público, este se torna pauta primordial para o desenvolvimento das cidades e, consequentemente, deve estar presente no plano de governo de candidatos à Prefeitura.

Se você ainda não sabe o que seu candidato ou candidata prevê para o transporte público no mandato 2021-2024, a Redação do Agora é Simples fez uma análise exclusiva sobre as propostas para os municípios de São Paulo e Belo Horizonte. Confira:

Pensar na melhoria do transporte público é pensar na estrutura em que ele funciona

Seguindo na mesma linha de raciocínio, para propor a melhoria do sistema de transporte público, deve-se saber como este é subdividido. Para isso, nosso colunista parceiro Rafael Pereira começa sua série de artigos abordando os modos e tipos de linhas de transporte existentes. Saiba mais.

Mesmo sabendo como o transporte funciona, existem alguns pequenos pontos para não transformá-lo em um desserviço

Dentre todas as necessidades que o transporte público enfrenta, existem 6 pontos essenciais que devem ser considerados para o entendimento do sistema e podem auxiliar para a melhoria em sua eficiência e gestão.

O gestor executivo do transporte público, Miguel Pricinote, compartilha com a gente quais são esses principais pontos aqui.

Pesquisa aponta qual o principal impedimento para usar o transporte público hoje

A gente já sabe que o transporte público vem enfrentando uma evasão muito grande de passageiros conforme os anos passam. Conjuntamente, a pandemia enalteceu essa e outras dificuldade que o transporte enfrenta.

Mais de um terço da população brasileira começou a trabalhar em casa, no modelo home office – e ainda há tendência para que isto se torne definitivo nos próximos anos.

Além disso, as pessoas começaram a ficar com medo de andar de ônibus e acabar contraindo o novo coronavírus – embora já falamos aqui que o transporte não é vetor do vírus, o problema é a lotação (em decorrência da má gestão).

Uma pesquisa realizada em São Paulo, em parceira com o Ibope Inteligência, identifica tendências e dados fidedignos sobre os deslocamentos da população de São Paulo. Estes podem ser utilizados para formação de novas políticas e melhoria na gestão do sistema de transporte. Saiba quais são.

Bom, e esse é o ponto final.

Nos vemos na próxima segunda!

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O transporte público é ou não é vetor do novo coronavírus?

Levantamentos sobre a relação entre o meio de deslocamento e o contágio de coronavírus apresentam dados diferentes para cada local

Foto: Photoboyko.

A relação entre transporte público e Covid-19 é um dos assuntos mais urgentes atualmente. Recentemente a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) divulgou uma pesquisa sobre desigualdade e vulnerabilidade no contexto de coronavírus nos municípios São Paulo. A pesquisa utiliza dados de mortes do Estado de São Paulo e cruza com a última pesquisa de Origem e Destino do Metrô, de 2017. 

Com base no índice, a correlação entre o transporte público e a quantidade de mortes por coronavírus é de 80%, seguido por trajetos a pé (78%) e automóvel (39%). A análise ainda indica que autônomos, donas de casa e pessoas que utilizam transporte público diariamente são os que mais morrem por Covid-19. 

Conjuntamente, as profissões – fornecidas pela pesquisa do Origem e Destino – que apresentaram maior índice de relação com as mortes pelo vírus indicada pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), aponta que autônomos, donas de casa e pessoas com carteira assinada explicam cerca de 80% dos óbitos. Esses dados reforçam a percepção de que pessoas que tiveram que continuar utilizando o transporte durante pandemia são as principais vítimas.

De acordo com a ÉPOCA, por razões socioeconômicas e sociodemográficas, o vírus matou mais pobres e pardos, mais homens que mulheres e mais jovens do que em outros países onde a pandemia inviabilizou sistemas de saúde, como na Itália e na Espanha.

No entanto, algumas cidades em Pernambuco apontam que a taxa de pessoas contaminadas pelo vírus que utilizam o transporte público diariamente é muito baixa.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco, com informações do Projeto D.A.D.O. da Prefeitura do Recife, constatou que, enquanto a quantidade de pessoas utilizando o transporte público aumentava na Região Metropolitana do Recife durante maio e julho de 2020, o número de óbitos e casos do coronavírus apresentava redução na capital.

Recife finalizou o lockdown na 22ª semana, ou seja, nos dias 24 a 30 de maio, e observou uma diminuição nos casos, inclusive partir da retomada das atividades econômicas. Com o passar dos dias, enquanto o transporte coletivo da RMR transportava mais passageiros, a capital registrava cada vez menos óbitos. A equipe de Artes do Jornal Communidade construiu um infográfico para demonstrar os dados.

Desconstruindo o risco de contágio no transporte público.
Fonte: Thiago Lucas / Artes JC (Jornal do Commercio). 

Estudos pelo mundo também apontam que o transporte público não é vetor de coronavírus. 

Estudo preliminar divulgado pelo governo de Nova York em maio de 2020 apontou que mais de 80% das hospitalizações registradas no período foram de pessoas que não usavam transporte público, apenas 4% das pessoas contaminadas pela Covid-19 afirmaram usar o transporte coletivo diariamente.

Mesmo com a preocupação, a demanda por transporte público no Brasil cai menos do que em outros países durante pandemia. Enquanto o Brasil apresentou queda de 51%, o continente europeu chegou à uma diminuição de cerca de 90% no transporte público.

Os estudos são, em sua maioria, exploratório e levantam ainda mais questões a serem estudadas. De todo modo, a relação de pessoas e transporte público têm se transformado. O aumento pela procura por bicicletas durante a quarentena pode impulsionar as cidades à oferecerem mais opções e estruturas para deslocamentos seguros. 

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Uso de bicicletas aumenta, transporte público à beira da falência & mais – Não durma no ponto!

O painel de notícias rapidinhas que a gente não pode perder.

A bike pode se tornar aliada do transporte público

Você já ouviu falar sobre o aumento na procura por bicicletas? Se não, corre aqui dar uma olhadinha.

Se você, assim como eu, tem sentido aquele cansaço após um dia em frente ao computador e ao olhar o celular, vê postagens de rostos felizes em meio à uma pandemia mundial, não se preocupe, estamos juntos nessa.

Por isso, milhares de pessoas sentiram necessidade de buscar um novo hobbie nessa quarentena e, por mais louco que possa parecer, as pessoas estão querendo realizar mais atividades físicas!

Brincadeiras à parte, esse bilhete é real. Mais da metade das pessoas têm utilizado o sistema de aluguel de bicicletas para ir e voltar do trabalho e a maioria pretende continuar usando o meio após a quarentena.

E o que o transporte público tem a ver com isso?

Empresas do setor têm anunciado inúmeras demissões e riscos de falência. Sabe por quê?

A principal fonte de renda das empresas de transporte público coletivo é a passagem de ônibus. No entanto, muitas empresas e escolas diminuíram seu horário de funcionamento e/ou transferiram-se para o modo online, o que diminuiu a quantidade de passageiros.

Embora tenha aparecido alguns casos de superlotação nos ônibus dado o desafio de redimensionar a frota de maneira dinâmica, a preocupação com o contágio do vírus no transporte fez isso diminuir e, claro, afetou negativamente a contabilidade das empresas de transporte.

Logo, com mais pessoas utilizando bicicleta, cada vez menos pessoas utilizarão o ônibus.

No entanto, quando pensamos em promover o transporte público, pouco é discutido sobre os caminhos até esses modais.

O transporte público vai ter que pegar “cano na bike” diante do novo cenário e aí a gente trabalha na intermodalidade, ou seja, na criação de espaços que estimulem o uso dos dois modais de transporte.

Essa semana é decisiva para o setor 

Mais uma vez a câmara dos deputados adiou a ajuda de R$4 bilhões para empresas de transporte. O plano emergencial prevê que o Estado compre bilhetes antecipados para contribuir com as operadoras. 

Deputados, porém, questionam a alocação de recursos. 

Segundo O Globo, a expectativa é de que os valores sejam melhor distribuídos de acordo com o tamanho e realidade de cada cidade, além do investimento em tecnologia de bilhetagem. 

Enquanto isso, no transporte por carros…

As concessionárias fecharam as portas por mais de dois meses, isso freou a produção das montadoras de automóveis.

A expectativa para 2020 era de 3,8 milhões de vendas de carros, mas o coronavírus acabou com tudo isso. A previsão passou a ser a metade.

Mas olha que ironia. 

O automóvel particular passou a ser visto como uma redoma segura.

E o mais louco disso tudo é que são os jovens (pessoas com menos de 35 anos) que mais pretendem comprar um carro.

De olho na clientela mais jovem, a BMW transformou suas contas no Instagram e no Facebook em canais de venda e estreou um perfil no TikTok, tudo isso durante a quarentena. 

Algumas empresas de transporte também já se atentaram a isso e possuem seus próprios canais digitais.

E mais, a rapidez de comprar um carro aumentou nos últimos tempos. 

A Volkswagen promoveu um evento de lançamento online por meio do Whatsapp. Eles venderam 1.000 carros em apenas 8 minutos. Gente, parece piada, né?

Para emitir um bilhete de ônibus em Brasília demorou quase 1 hora!

Como já diz o ditado “se não pode vencê-los, junte-se à eles”!

A Uber, famosa por se destacar como rival dos taxistas, lançou nesta semana a categoria Uber Táxi. Até agora, funcionando apenas na cidade de São Paulo. 

O preço seguirá a tabela de tarifas determinada pela legislação municipal e a mudança indica mais uma etapa na estratégia de ampliar a plataforma para oferecer mais opções aos clientes e para ampliar a receita, visto que a queda nas viagens chegaram a 80%.

O coronavírus balançou nosso sistema.

Leitura em dia, aqui é o nosso ponto final.

Mas não se preocupe, segunda que vem pegamos o mesmo ônibus. Não se atrase!

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Demanda de ônibus no Brasil cai menos do que em outros países durante pandemia

Moovit disponibiliza relatório do impacto no setor de transporte do mundo

Foto: Nereu Jr/WRI Brasil.

A pandemia de coronavírus gerou um impacto negativo no setor de transporte público. Os principais sistemas de transporte público no país registram perdas de 70 a 80% no número de passageiros e as empresas têm apresentando até 95% de perda de receita.

Para o acompanhamento deste impacto, desde março de 2020, o aplicativo de mobilidade urbana Moovit têm gerado um Relatório Geral do transporte público em todo o mundo. O relatório é composto através de dados anônimos de usuários do aplicativo.

Segundo o relatório, o Brasil apresentou uma queda na demanda de 51,5% no transporte público. No dia 19 de julho de 2020, Brasília registrou a menor queda do país (-36,7%), seguido por Fortaleza (-45,3%), Recife (-46,2%), Curitiba (-46,9%), Belo Horizonte (-47,7%), São Paulo (-48,4%), Rio de Janeiro (-50,2%), Salvador (-62,6%) e, a maior queda em Campinas (-64,4%)

Impacto do coronavírus (COVID-19) no transporte público em cidades brasileiras.
Fonte: Relatório Geral (Moovir, 2020).

Considerando cidades do mundo todo, as mais afetadas foram Madrid, na Espanha, e Roma e Torino, na Itália, com uma queda na demanda de cerca de 90% no transporte público. Por toda a Europa, a preferência pelo trabalho remoto, educação à distância, telemedicina, vendas pela Internet e delivery impactaram a locomoção dos cidadãos europeus. Contudo, de acordo com a Valor, setores como o de transporte público podem levar anos para se restabelecer.

Impacto do coronavírus (COVID-19) no transporte público em cidades do mundo inteiro.
Fonte: Relatório Geral (Moovir, 2020).

Marco Lissere, médico infectologista, relata a preocupação das pessoas em relação ao alto risco de contágio em ônibus devido a falta de distanciamento. “É difícil ter segurança em um ambiente onde não há distanciamento, por isso acredito que as pessoas tenham medo e fiquem receosas”, disse o médico para Tribuna de Petrópolis. 

A preocupação e o receio das pessoas ao utilizarem o serviço de transporte público aumenta a cada dia. De acordo com análise no Google Trends, a busca por “covid no onibus” têm aumentado desde fevereiro de 2020.

Pesquisa pelo termo “covid no onibus” aumenta.
Fonte: Google Trends (2020).

Ademais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a utilização de máscara e álcool em gel nas mãos para quem precisa usar o transporte público, e a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) orienta as empresas que reforcem a higienização dos ônibus, permaneçam atentos à disponibilidade de água e sabão nos sanitários e disponibilizem álcool gel em locais de atendimento.

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Assim como os bondes, o transporte público por ônibus pode desaparecer se essa medida estrutural não for tomada agora

A sobrevivência do setor de transporte público deve ser pensada para o pós-pandemia

No início do século XX, os bondes eram o principal meio de transporte urbano no país. Depois veio a gripe espanhola que instaurou terror no Brasil, acabou matando o presidente eleito Rodrigues Alves e paralisou o comércio e as escolas. 

À medida que a gripe espanhola atravessava as cidades, os sistemas de bondes foram forçados a fazer mudanças centradas na saúde, incluindo a exigência de máscaras nos passageiros, a limitação da capacidade dos bondes e alguns serviços foram desativados brevemente devido à escassez de operadores. No entanto, a grande crise do setor de transporte realmente ocorreu a partir da depressão econômica de 1930 junto com o avanço da política nacionalista varguista.

Hoje, com a pandemia, os principais sistemas de transporte público no país registram perdas de 70 a 80% no número de passageiros. Somado às finanças no vermelho e operadores endividados, entes reguladores têm reduzido drasticamente o serviço, fazendo com que o sistema perca atratividade.

Porém, diferentemente do que ocorreu no pós crise sanitária provocada pela Gripe Espanhola, a situação atual apresenta vertente à uma crise econômica com elevado índice de desemprego, somado ao fato que parte dos antigos passageiros continuarem trabalhando remotamente, enquanto outros podem mudar seus padrões de deslocamento para dirigir, usar aplicativos de transporte ou andar de bicicleta. 

“Sabemos que as pessoas terão medo de usar o transporte público do ponto de vista da saúde.”

Ahmed El-Geneidy, professor de planejamento urbano da Universidade McGill. 

Supondo que a demanda e a receita dos passageiros permaneçam baixas, os reguladores possivelmente terão que manter os cortes nos serviços, mesmo após o fim da quarentena, apesar de necessitar mais oferta, e não menos, para permitir o distanciamento social. Entretanto, hoje não existe dotação orçamentária para o financiamento da improdutividade do transporte público no país. 

A literatura acadêmica mostra que esses cortes podem, por si só, ser um elemento provocador de mais retração da demanda.

 “Existe uma elasticidade que mostra que, se você reduzir o serviço em 10%, geralmente pode esperar um número de passageiros cair 3-6%.”

Greg Erhardt, professor de engenharia civil da Universidade de Kentucky.

Um fator agravante é que 2020 foi o sétimo ano consecutivo do que a NTU apresenta como “tendência perturbadora“, o que se refere ao fato de que o número de passageiros no Brasil está em declínio desde 2013. As explicações para a queda do número de passageiros durante esses anos envolvem crédito fácil para empréstimos para compra de automóveis, a baixa qualidade do serviço para os que não possuem subsídios públicos, surgimento de serviços como Uber e 99, e falta de investimento em infraestrutura.

Quem serão os passageiros na sequência do coronavírus? É certo que os passageiros retornarão inevitavelmente nas regiões mais densas das cidades, porém, pode estar surgindo um novo e potencial nicho para futuros passageiros do transporte: famílias de baixa renda que compraram veículos financiados nos últimos anos.

Temos que realmente tratar o transporte público como um serviço essencial. Não podemos pensar como uma organização com fins lucrativos que ganha dinheiro com o número de passageiros. Neste cenário, o poder concedente deve mudar a forma de remuneração dos operadores, ao invés de serem remunerados pela tarifa, os mesmos deverão ser remunerados pela oferta do serviço. 

Ao mudar a forma de remuneração, há possibilidade de criar uma demanda mais forte por subsídio público, em vez de continuarem dependendo de aumento das tarifas ou da lotação dos veículos. 

Por muitos anos, os políticos apresentam grandes aspirações para o transporte público: que ele supere o transporte individual, lute contra as mudanças climáticas e revitalize as comunidades. Mas as duas coisas que comprovadamente fizeram no último meio século são fornecer mobilidade para quem não tem – seja por idade, renda ou incapacidade – e permitir a função de locais altamente adensados. Sendo assim devemos viver o futuro focando em um dia após o outro. 

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Atenção ao transporte coletivo em momento de crise mundial

A superlotação de ônibus em meio à quarentena é motivo de preocupação da sociedade brasileira

Cada vez menos pessoas estão usando ônibus como meio de transporte no Brasil. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 39% dos brasileiros estão insatisfeitos com o transporte público, sendo a Região Sudeste com opiniões mais negativas. O levantamento fornece subsídios para o avanço de políticas públicas, com atenção à inadequação da priorização do transporte individual em detrimento do transporte coletivo, de acordo com o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

A insatisfação para com o transporte agrava durante situação de pandemia atual. Diante da adoção do home office de apenas 43% de empresas brasileiras, da flexibilização da quarentena proposta em alguns estados e cidades do país e da retomada das atividades econômicas, passageiros enfrentam lotação no ônibus. A reabertura de empresas e comércios, principalmente os que não se caracterizam como serviço essencial, é considerada pelos cidadãos como falta de preocupação dos governos com a sociedade. 

Cerca de 25% dos brasileiros utilizam o ônibus como meio de transporte para o trabalho ou escola, havendo então, principalmente nesse período, uma superlotação nos referidos meios de locomoção devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda. O setor de transporte coletivo normalmente transporta 45 milhões de passageiros/dia. Hoje, segundo o Google, o Brasil teve redução de 34% na frequência a locais de trabalho, 66% seguem trabalhando. Já a queda no transporte coletivo é de 52%, ou seja, mais de um terço da população segue utilizando o meio. Com a redução da oferta, muitos enfrentam lotação, fazendo com que o distanciamento proposto como medida de segurança chegue a ser infactível. 

“Pego [ônibus] todos os dias às 6:15h e está sempre lotado. Não se você deixa pra ir em outro chego atrasada no trabalho. Então o jeito é ir nesse lotado mesmo”.

Aline Brandão, em comentário no Facebook.

A preocupação é notória. No Brasil, o estado com mais infectados pela Covid-19 é São Paulo, com 22% de casos confirmados, e sua curva de contágio apresenta uma tendência de aumento. Na quinta-feira (28), o estado bateu recorde de registros de infectados num período de apenas 24 horas, com 6.382 novos casos. O número foi alcançado um dia depois do governador João Doria (PSDB) anunciar um plano de reabertura de atividades não essenciais, chamado por ele de “retomada consciente”.

A aglomeração em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro são preocupantes. Em Minas Gerais, o governo baixou um decreto para que a capacidade máxima dos ônibus nesse período passasse a ser o limite de passageiros sentados, no entanto, a determinação não está sendo seguida nos horários de pico. Em São Paulo, a frota precisou ser reajustada, hoje há mais de quatro mil ônibus rodando, porém, os metrôs continuam superlotados. Já a prefeitura do Rio de Janeiro pôs em prática medidas para tentar fazer com que os trabalhadores saiam de casa em horários diferentes, mas o que se viu na prática foram cenas de dias normais.

“É um absurdo. Todos os dias têm sido assim, eu entro nos ônibus morrendo de medo de pegar o vírus. As pessoas não respeitam, nem todas usam máscaras e todos ficam aglomerados”.

Passageira Lilian Deisi Brustolin, para o G1.

Em relação à obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção, a preocupação ultrapassa o contágio do vírus. O transporte público tem se tornado alvo de assaltos durante a pandemia e até a proibição da entrada de passageiros sem o uso de máscaras passou a ser motivo de brigas e desentendimentos durante viagens. Além disso, a sociedade se questiona a respeito da locomoção de pessoas com suspeita ao novo coronavírus. Grande parte da população que utiliza o ônibus são de classe média a baixa, e apresentando sintomas iniciais à doença, não há internação imediata, sendo aconselhados à repousar em suas próprias casas, se locomovendo novamente através do transporte coletivo. A questão que fica é: a quarentena começa somente ao chegar em casa?

O Instituto de Saúde Global apontou em 2018 que as pessoas que usavam o metrô regularmente eram mais propensas a apresentar sintomas semelhantes aos da gripe. A pesquisa ainda mostrou que, quando os habitantes são obrigados a mudar de linha uma ou mais vezes, as chances de apresentarem sintomas parecidos à influenza são mais altas quando em comparação com os passageiros que chegam ao seu destino por uma viagem direta. Enquanto que, para o transporte relativamente vazio, os riscos mudam.

Recentemente, a empresa Marcopolo realizou um estudo sobre a renovação de ar no transporte público como forma de combate à disseminação de Covid-19.

“No momento delicado no qual nos encontramos, existe apreensão quanto a possibilidade de contaminação através de vias aéreas causadas por agentes patológicos, como vírus e bactérias, principalmente em ambientes fechados. Os estudos demonstram que a capacidade de renovação de ar dos dispositivos de ar-condicionado em ônibus, aliada à medidas de segurança como o distanciamento necessário, uso de máscaras e a correta higienização dos veículos e dos sistemas de climatização, é uma importante aliada na prevenção de doenças virais, como é o caso da Covid-19”.

Luciano Resner, diretor de Engenharia da Marcopolo, para a Unibus RN.

Uma equipe com mais de 100 pessoas de todas as regiões do mundo têm sistematizado as respostas de políticas públicas que os governos assumiram para enfrentar o novo coronavírus. As informações coletadas estão agrupadas em 17 indicadores que buscam medir três eixos principais: i) medidas de contenção e fechamento; ii) políticas econômicas; e iii) políticas no sistema de saúde. Com base nesses indicadores, é calculado um índice de rigor o qual fornece uma idéia do número de políticas governamentais e o quão rigorosas elas são. Ele não mede a eficácia das respostas do estado à pandemia, mas as informações fornecidas são essenciais para que os tomadores de decisão locais possam calibrar e melhorar suas ações baseando-se em evidências.

O estudo indica a necessidade de comparar medidas eficientes de estados com características semelhantes, principalmente relacionadas à fragilidade do estado, capacidades, PIB, área territorial e índice da população. A partir do estudo (ainda prévio), ressalta-se que não existe uma solução ou fórmula única para enfrentar os enormes desafios que o Brasil e muitos outros países ainda irão passar. As experiências de outros países não podem ser copiadas, mas devem ser adaptadas para que sua implementação atenda às necessidades e capacidades de cada local.

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Antecipação de feriados contribui para o isolamento social?

Autoridades de saúde afirmam que a taxa de isolamento social deve ser de 70%

O reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde (OMS) da pandemia do novo coronavírus e o avanço da contaminação e mortes indicados na cidade e no Estado de São Paulo exigiram que medidas de urgência fossem tomadas pelos governos locais no âmbito de suas competências. Assim, a antecipação de feriados como forma de incentivar o isolamento social envolve a preocupação com a saúde pública.

Prevista pela Lei nº 17.341/2020, a antecipação de feriados no município de São Paulo foi autorizada pelo poder executivo durante a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. Portanto, aliado ao Decreto nº 59.450/2020, o prefeito de São Paulo antecipou os feriados de Corpus Christi (11/06) e da Consciência Negra (20/11) para os dias 20 e 21 de maio. 

Em seguida, o Governo do Estado de São Paulo realizou a antecipação do feriado de 9 de julho, em que se comemora a Revolução Constitucionalista, para segunda-feira, dia 25 de maio. Na mesma linha da emergência, outros municípios também estão adotando a prática da antecipação de feriados.

O primeiro dia de feriado antecipado na cidade de São Paulo, 20 de maio, apresentou queda de 33,2% na demanda de passageiros de ônibus, podendo chegar até 50% de redução. A comparação é com a média diária de segunda-feira (18) e terça-feira (19). Já na manhã desta segunda-feira (25), por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo disse avaliar resultados positivos com a antecipação dos feriados, aliado à isso, o transporte metropolitano de ônibus terá 40% da frota nesta segunda-feira, contra 65% do restante da quarentena sem os feriados. 

No entanto, gráfico da variação do isolamento social disponibilizado pelo Governo de São Paulo mostra que a taxa não chegou a 55% em nenhum dos dias, valor citado pelo governador João Doria como mínimo para conter a propagação do novo coronavírus. Autoridades de saúde do próprio governo, no entanto, afirmam que o ideal é que a taxa seja de 70%. Na contramão, o rodízio de veículos voltará a vigorar normalmente na terça-feira, dia 26 de maio.

Alguns efeitos são relevantes na determinação das autoridades públicas: (i) tem como fundamento o estado de calamidade pública; (ii) tem como finalidade o isolamento social para combate à Covid-19; (iii) o ato de antecipação do feriado não está mais no poder discricionário do empregador; (iv) não se poderia tratar a antecipação de feriado da mesma forma que a legislação vinha cuidando de possíveis compensações.

Em decorrência à anormalidade da situação atual, auditores fiscais e empresas não podem se submeter ao controle de cumprimento de regras de portarias que disciplinam o trabalho em feriados em situação de normalidade, notadamente descrita pela portaria nº 290 de 1997. Deste modo, o objetivo legal do isolamento é preservar a saúde da população, levando à necessidade de medidas de emergência.

Os arranjos em tempos de exceção exigem solidariedade, respeito à dignidade da pessoa humana e o conhecimento de que os atos praticados deverão ser no futuro avaliados segundo a realidade jurídica de exceção.

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Prefeitura de Londres anuncia apoio para transporte público da cidade

Com perdas históricas, socorro público chega para evitar falência do sistema de transporte da capital britânica

1.6 bilhões de libras esterlinas, ou cerca de 11 bilhões de reais, esse é valor destinado pelo prefeito de Londres, Sadiq Khan, ao Transport for London (TfL), companhia responsável pela operação de metrô e ônibus na capital britânica. 

Com forte queda na arrecadação com a quarentena obrigatória no país, o sistema de transporte público de Londres, um dos mais caros do mundo, beirou o colapso. 

O “lockdown” levou a um corte de 95% nas pessoas que usam o metrô na cidade e o número de passageiros de ônibus também caiu 85%, além dos clientes não precisam mais pagar as viagens, como parte das medidas para proteger os motoristas. 

Além do apoio em bilhões de libras, o governo local também adotou outras medidas. A mais controversa é o aumento do preço da passagem em 1% acima da inflamação. Khan, que concorre à reeleição, era contra qualquer aumento ao cidadão durante a campanha eleitorial que já foi adiada. 

Uma revisão a longo prazo das finanças da TfL também está em jogo, além da colocação de publicidade em espaços da rede de transportes londrina.

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Reforma de ruas e ciclovias: uma proposta para o distanciamento social e o pós-pandemia

Estamos vivendo uma oportunidade de construir cidades inteligentes e sustentáveis em momento de quarentena

A atual conjuntura está levando a sociedade a um novo patamar de convívio social, interferindo na mobilidade urbana. Aliada à preocupação já existente sobre acidentes de trânsito, mesmo com a atual queda no tráfego de veículos, as ruas não se tornarão inerentemente mais seguras no pós-pandemia, assim, o momento de isolamento social atrelado à diminuição de tráfego faz com que a realização de obras nas vias públicas se torne possível. 

Em 2018, a participação dos veículos no trânsito da grande São Paulo (nos horários de pico em dias úteis), era composta por cerca de 80% automóveis e 15% motocicletas, seguido por ônibus (3%), caminhão (1,5%) e bicicletas (0,9%). A partir do cruzamento de dados de acidentes fatais, automóveis e motocicletas envolveram-se em 75,6% do total de acidentes.

Logo, com o foco em melhorar a segurança e a qualidade de vida dos cidadãos, o desenho estratégico de ruas, calçadas e ciclovias é essencial. Em primeiro lugar, podemos pensar na reforma das vias públicas para auxiliar no distanciamento social de um metro e meio recomendado e a fim de evitar a sobrecarga do sistema de saúde, numa proposta de diminuição do espaço de carros para aumento da largura de calçadas.

Em segundo lugar, pensando no pós-pandemia, tornamos as cidades mais amigáveis, com incentivo à caminhadas e ciclismo, podemos reduzir o número de pessoas que precisam ir ao pronto-socorro por conta de um acidente na rua. 

Tornando-se necessária a reestruturação das ruas, estudo realizado pela WRI Brasil mostra que, para cada 1% de mudança voltada para uma cidade mais compacta e conectada, a taxa de morte no trânsito diminui 1,5%, e as taxas de mortalidade de pedestres diminuem de 1,5 a 3,6%, fazendo com que o desenho das ruas contribua na melhoria da segurança e qualidade de vida dos cidadãos.

Exemplos de reestruturação ocorrem Brasil afora. Em Nova York, as autoridades implementaram projeto piloto para mudança no trânsito a fim de oferecer mais espaço aos pedestres, interditando ruas, o que não deu certo por questões de baixa aderência. Enquanto que Bogotá apresentou uma alternativa permanente a partir da reorganização de espaços públicos em uma ação rápida e benéfica. Outro projeto permanente é a criação de superquarteirões em Barcelona, dando prioridade total à pedestres e ciclistas.

A qualidade do ar é outro ponto a favor da redução de espaço dos carros. Imagens de satélite que detectam emissões de carbono provenientes do tráfego de carros e caminhões mostraram enormes quedas nas principais cidades como Nova York, Los Angeles e Seattle neste período de quarentena. Logo, reduzir o espaço de carros particulares pode ajudar também na diminuição de emissões de carbono no futuro.

Considerando também a dificuldade de grandes cidades em controlar aglomerações, a reestruturação de ruas com maiores dimensões e a construção de uma rede de ciclovias protegidas poderia auxiliar no distanciamento social. A partir das reformas, o deslocamento de moradores, especialmente aqueles sob as regras de isolamento, seria facilitado.

Atrelado à isso, outros hábitos pessoais relacionados ao trabalho e à interação social foram alterados, o que representa mudanças políticas e sociais que refletem na economia. Logo, esse momento pode se tornar uma oportunidade exclusiva de pensar sobre o design e planejamento urbano, podendo contribuir para a construção de cidades inteligentes e sustentáveis.

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.

Empresas de transporte público propõem medidas de segurança contra o novo coronavírus

Sindicatos e poder público promovem mudanças no transporte aliado à nova tecnologia proposta por piloto brasileiro

Diante da dispersão do Covid-19, medidas de contenção e prevenção são indispensáveis neste momento. E, considerando um dos maiores meios de locomoção adicionado à superlotação por conta de frota reduzida, a segurança nos transportes públicos é primordial.

Levantamento realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), mapeou mais de 2,5 mil ocupações no país e alerta que motoristas e cobradores de ônibus apresentam 70% de risco de contágio pelo coronavírus.

Segundo o Sindicato de Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotoristas), no dia 16 de abril de 2020 já haviam 175 trabalhadores com suspeita de contaminação, 27 confirmados e 15 mortes pelo coronavírus, enquanto outras 12 aguardam o resultado.

Com isso, o Sindmotoristas já anunciou a necessidade das empresas de ônibus fornecerem os equipamentos de proteção individual como máscaras, luvas e álcool em gel para os trabalhadores.

Paralelamente, a SPTrans também autorizou as empresas de ônibus da capital paulista a disponibilizarem cortinas em “L” para os motoristas, a qual funcionará como barreira de proteção contra as gotículas de saliva, uma das principais formas de transmissão do vírus.

Aliado ao objetivo de mapear ações a serem realizadas diante da dificuldade enfrentada pelo transporte público, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou recentemente o documento “Transporte público e COVID-19. O que pode ser feito?”, o qual aborda ações para cada setor relacionado, ou seja, passageiros, operadores e poder público.

Uma das medidas a serem propostas pelo poder público é o projeto de lei da vereadora Sandra Tadeu (DEM), o qual propõe o uso obrigatório de máscaras em áreas públicas abertas ou fechadas e áreas privadas com livre acesso ao público, como também ônibus, trens da CPTM e metrô.

Em Uberaba (MG) já foi publicado decreto que limita os ônibus a circular com passageiros em pé e sem máscaras, assim como o uso para operadores do transporte. Outra cidade com decreto objetivando as medidas de prevenção para os ônibus é Guarapuava (PR), com operações suspensas de forma integral aos finais de semana e uso obrigatório de máscaras.

A tecnologia aliada à proteção

Projeto idealizado pelo piloto brasileiro Lucas di Grassi dá forma ao robô Hyperviolet C600 através da Zasso, o qual apresenta a capacidade de desinfectar cada carro ou ônibus em até um minuto através da emissão de luz ultravioleta (UV). O equipamento depende de energia por área (joule/m²), assim, com energia suficiente, a capacidade de esterilização pode chegar a 100%.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo iniciou os testes dia 15 de abril de 2020 em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Se comprovada a eficácia, poderá ser implementada em todo o sistema do Estado: CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e no próprio Metrô.

Assista ao vídeo de funcionamento do robô.

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.

Transporte público aprofunda desgaste de financiamento com pandemia de Coronavírus

Crise acende alerta no setor, que já vive declínio com tendências globais como envelhecimento da população e ‘home office’

Era um dia normal de trabalho para dona Neide, 57, na capital paulista. Embora atenta à situação de calamidade pública em que vive o país, seu trabalho numa padaria na região central da cidade a impede de exercer qualquer função remota “preciso continuar a trabalhar, mesmo com esse risco né”. 

Essa é a realidade de milhares de brasileiro que continuam a sair de suas casas mesmo contra recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde. Dona Neide faz parte de um contingente de milhões de brasileiros que podem se infectar no surto de Covid-19 que se alastra pelo Brasil. 

Desde que a crise começou, o transporte de massa é alvo de preocupação em relação à transmissão do vírus Covid-19, com intenso apoio das autoridades ao isolamento e ao chamado “home office”. A estratégia visa diminuir a circulação de pessoas e interromper o ciclo de infecção. 

Os vídeos linkados abaixo são do jornal americano Washington Post e mostram como o vírus circula quando as pessoas se locomovem normalmente versus com restrições de mobilidade e isolamento social. 

Combate à epidemia 

De início, a principal estratégia inicial tem sido as restrições de viagens internacionais, que diminui a contaminação de países atingidos em novas regiões e impactam milhares de voos e as finanças de companhias aéreas do mundo todo. Contudo, as viagens locais também são um espaço de circulação viral, seja por que há contaminação dada a proximidade de pessoas em vagões e ônibus lotados, como também por permitir a circulação de pessoas a outros lugares, aumentando a circulação do vírus. 

No Rio de Janeiro, o fluxo de pessoas dos trens da capital já diminuiu em 76 mil clientes segundo a Supervia, além de redução de 27% no número de passageiros do Metrô Rio no último final de semana, segundo sua administradora.. Já em São Paulo o trânsito da primeira segunda após medidas restritivas diminuiu de 86km para 49km. Ainda na capital paulista decreto do prefeito Bruno Covas prevê que a circulação de ônibus pode ser reduzida caso a demanda diminua bastante, o que deve acontecer paulatinamente nas próximas semanas. 

Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) houve redução de 30% no fluxo de passageiros nos últimos dias, com esse percentual podendo chegar a 50% nas próximas semanas. 

Enquanto isso, o governo prevê socorro às companhias áreas que estão com intensas reduções de viagens e, por isso, correm o risco de quebrar. Entre as medidas brasileiras que podem ser adotadas estão: 

  • desoneração da folha: o gasto com salários deverá ser descontado da base do cálculo de PIS/Cofins. O valor que não for pago será quitado a partir de outubro;
  • crédito: linhas de longo prazo;
  • capital de giro: bancos públicos devem oferecer linhas de financiamento;
  • Pagamento das taxas de uso de aeroportos estendidas até o final do ano.
  • reembolso: passageiros que cancelam viagens serão reembolsados em 12 meses e não imediatamente, como acontece hoje.

O que não está claro é se o transporte público também receberá tais benefícios, uma vez que o Ministério da Saúde e os Estados intensificam as medidas restritivas de circulação e, com isso, empresas de transporte público sofrem tanto quanto companhias aéreas na redução de passageiros. Pessoas que nunca fizeram home office, agora o fazem, estudantes estão em casa e a população, em geral, começa a se isolar socialmente. Aqueles que não podem, como Dona Neide, cada vez mais começam a ser minoria. 

Problema estrutural do transporte público

O transporte público brasileiro é financiado principalmente pelas receitas tarifárias, mas esse modelo já está esgotado há algum tempo, como afirmam diversas entidades, como a NTU e a Frente Nacional de Prefeitos (FNP).

Como é um serviço essencial à vida urbana, o poder público detém bastante poder sobre o comissionamento das operadoras do transporte coletivo, controlando reajustes e garantindo que as passagens não subam a preços abusivos. Com isso, porém, num cenário de crise e redução drástica da demanda fica difícil manter as operações e garantir que, após a crise, as empresas estejam vivas economicamente para continuar a prestar seus serviços. 

Diferentemente da indústria de bens de consumo que pode ter uma leve recuperação com a demanda que estava reprimida no fim dessa quarentena que ainda não tem previsão, o transporte urbano, diferente até mesmo do rodoviário e do aéreo, não se recupera com o retorno das atividades normais, pois uma vez não transportado a receita está perdida. Aquele deslocamento não irá acontecer em um oportunidade futura.

Essa situação toda, além de maximizada pela queda de demanda na crise, expõe também um problema crônico de financiamento do transporte público e acende o alerta sobre tendências globais, como envelhecimento da população, trabalho informal e home office, que radicalizam neste momento e abre margens para fraturas no setor que podem não ter recuperação. 

Mobilidade também é sobre não se locomover

Iara Li, 27, designer no interior de São Paulo está em modo à distância no trabalho desde a última segunda, 16, “no dia tinha ainda 9 casos suspeitos ou menos aqui em Marília. Hoje já está com 28 casos suspeitos […] Estamos em home office por tempo indeterminado”. A profissional completa dizendo que sua jornada era completamente presencial até então “ia de ônibus e às vezes de 99”, finaliza. 

Assim como Iara, milhões de brasileiros experimentam pela primeira vez o trabalho à distância, embora trabalhar em casa com poucas ou nenhuma ida ao escritório já é realidade de 4,5 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. Apesar da grande maioria desse percentual seja de trabalhadores autônomos, cerca de 3,9 milhões, os dados em si demonstram uma disposição do mercado e das pessoas em aceitar o trabalho remoto e garantir a geração de renda em suas próprias casas, tendência já registrada em âmbito global. 

Com a pandemia do Covid-19 o home office ganhou novos contornos no debate público, sendo radicalizado nesse momento de crise. 

O futuro do transporte público

A população está envelhecendo, a expectativa de vida brasileira chegou a 76 anos em 2017 (IBGE), aumento de 7,4% em relação ao ano 2000. Com esse aumento sobe também a demanda por gratuidades no transporte público, enquanto a porcentagem de jovens economicamente ativos só diminui. Somado a isso, o trabalho informal é cada vez maior. 

Por si só, essas duas situações já aumenta a pressão sob o financiamento do transporte público, pois com muitas gratuidades fica economicamente insustentável e o Vale-Transporte, importante fonte de receitas, é cada vez menos influente num mercado de trabalho informado.

Acrescente ao imbróglio desse modelo de financiamento baseado em tarifas o home office atrelado às tecnologias sociais, que aumenta nossa produtividade e diminui a necessidade de encontros presenciais, o famoso “essa reunião poderia ser um e-mail”. Tal perspectiva eleva o desafio do setor de transporte público no Brasil em buscar alternativas para sua sustentabilidade financeira, que vão além das tarifas e do subsídio público. Em tempos de coronavírus, a diminuição drástica de transportados nos sistemas urbanos de mobilidade só evidencia desafios urgentes para o setor com ou sem vírus.

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.

Coronavírus: transporte público pode perder até 50% dos passageiros, diz entidade

Para Associação Nacional das Empresas de Transporte Público é necessário olhar atento do poder público ao setor.

Via NTU

Nos últimos dias houve redução de aproximadamente 30% da demanda de passageiros de transporte público coletivo urbano por ônibus em algumas cidades brasileiras em decorrência das medidas de distanciamento social e de flexibilização das atividades laborais, tais como o trabalho à distância (home office) e paralisação de atividades, devido ao avanço do coronavírus no país. Estima-se que metade desse total, 15%, se deve à suspensão das atividades educacionais e fechamento de escolas. O agravamento da situação poderá gerar impacto de mais de 50% na queda de passageiros, segundo levantamento preliminar da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), que representa o setor.

Para fazer frente a esse quadro, a entidade defende a flexibilização temporária da oferta, com readequação da frequência e do número de ônibus, em decisão conjunta com o poder público local. “Não faz sentido ter ônibus rodando vazios só para cumprir um planejamento feito antes da pandemia, e que não se aplica mais neste momento”, pondera o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha. Ele lembra que essa medida foi adotada em algumas cidades e pela Diretoria de Transportes Rodoviários do Rio Grande do Sul em relação ao transporte intermunicipal daquele estado.

Numa situação extrema, de limitação de todo e qualquer deslocamento não essencial, como já vem ocorrendo em várias cidades da Europa, a NTU estima que grande parte do serviço de transporte público ficaria ocioso devido à redução de praticamente toda a demanda. “É importante frisar que, pela natureza essencial desse serviço público, seria necessário manter uma oferta mínima para atender aos passageiros que não têm outra alternativa de deslocamento”, esclarece o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha.

Diante desse cenário e com a expectativa de forte redução do número de passageiros tendo em vista o crescimento previsto do número de casos do Covid-19, a NTU reivindica que sejam adotadas, desde já, medidas especiais e emergenciais para assegurar a continuidade do transporte público urbano em todo o país, nas condições estipuladas pelas autoridades públicas, de forma que mesmo em situação de queda drástica da receita, as empresas operadoras possam sobreviver frente às obrigações financeiras para manter os serviços em funcionamento.

O pleito a ser encaminhado ao Governo Federal consiste na instituição de um fundo nacional de emergência que possa complementar o déficit previsto entre custos e receitas das empresas operadoras de transporte público coletivo urbano e de caráter urbano.

Otávio Cunha reconhece a grande responsabilidade social do setor de transporte público coletivo, que tem que ofertar um serviço que atenda os atributos de universalidade, continuidade e preços módicos, mas vê grandes dificuldades pela frente. “Estamos falando de um setor responsável por 86% das viagens realizadas em modos de transportes coletivos urbanos em todo o país. O setor deve seguir todas  as recomendações das autoridades públicas sobre a oferta dos serviços, mas, para isso, precisa ter garantido o equilíbrio financeiro das operações, visto que, de forma geral, as empresas estão debilitadas, já que enfrentam há tempos uma crise decorrente da queda sistemática de demanda, e não vão aguentar mais esse baque”.

Em São Paulo o prefeito Bruno Covas divulgou decreto que autoriza redução na operação dos ônibus em caso de queda acentuada de demanda. No Rio, algumas estações de trens da Supervia começam a ser fechadas.

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