Os aplicativos cresceram com a proposta de diminuição de carros em vias urbanas porém levantamentos apontam dados contrários
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês) e da Universidade de Tongji realizaram um levantamento dos impactos de aplicativos de viagens compartilhadas – Uber e Lyft – na mobilidade urbana dos Estados Unidos. Esses serviços de transporte tinham como prerrogativa a diminuição de carros nas ruas e consequente diminuição de congestionamentos e poluição do ar, porém, após mais de 10 anos instaurados nos EUA, o resultado é oposto.
A Uber lançou seus serviços em San Francisco, Califórnia, em 2010, enquanto a Lyft foi fundada na mesma cidade em 2012. Em 2016, os prestadores de serviço das empresas realizaram 15% das viagens, 12 vezes o número de viagens de táxi. Embora bem representativo, o número de carros em áreas urbanas não diminuiu, além de não haver evidências sobre a diminuição do congestionamento. Ao contrário do que esperava, os pesquisadores observaram um aumento nos engarrafamentos, em termos de intensidade (+ 0,9%) e duração (+ 4,5%).
Analisando a compra de automóveis, a população estadunidense comprou tantos veículos quanto tinham antes da chegada dos novos serviços. Além disso, o número de passageiros do transporte público foi reduzido em aproximadamente 9%, indicando a maior aderência aos serviços de carro compartilhado. Nas áreas metropolitanas dos EUA, onde os residentes são mais propensos a usar o transporte público, o efeito de redução do carro foi de aproximadamente 1%.
De acordo com a análise, embora ainda no início, as empresas de carro compartilhado intensificaram os desafios do transporte urbano desde sua estreia nos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram que aproximadamente metade das viagens de Uber e/ou Lyft são aquelas que, de outra forma, teriam sido feitas a pé, de bicicleta, transporte público ou que não teriam sido feitas.
Em 2020, a Union of Concerned Scientists (UCS), organização sem fins lucrativos que reúne cientistas em prol da proteção ambiental com sede no Estados Unidos, divulgou um relatório afirmando que as empresas de aplicativo para viagens compartilhadas têm aumentado “as viagens de veículos, a poluição climática e o congestionamento” nas cidades.
“Nossa análise mostra que as viagens compartilhadas hoje resultam em uma estimativa de 69% a mais de poluição climática, em média, do que as viagens que realizam”
de acordo com relatório da UCS.
Assim, mesmo que o serviço de carro compartilhado substitua as viagens de veículos particulares, os quilômetros percorridos são mais do que compensados devido às distâncias percorridas sem passageiros, as quais representam pelo menos 40,8%. Ou seja, estamos trocando seis por meia dúzia.
A fim de entender o impacto na troca de passageiros do transporte público para o uso de carros particulares, a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) realizou uma projeção de três cenários, supondo uma migração de 10%, 20% e 30% da demanda. O resultado demonstrado no relatório aponta impacto negativo sobre quilômetros rodados por carros, que podem aumentar de 19% a 57%; crescente poluição a partir do aumento de gases de efeito estufa (de 21% a 78%); e aumento no número de acidentes com vítimas (de 3% a 8%).
Além disso, vale lembrar que quanto maior o trânsito nas cidades, maior os custos operacionais das empresas de transporte, além de redução no número de passageiros e aumento no valor da tarifa do transporte (de 11% a 45%).
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