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O que está passando despercebido no setor de mobilidade urbana – Não durma no ponto!

Pontos cruciais da mobilidade urbana que estão sendo deixados de lado e precisam ser levados em consideração agora!

Essa semana vamos começar com um assunto muito importante que deveria ser pautado em ações há muito tempo: a paridade de gênero no setor da mobilidade urbana.

Não é de hoje que ouvimos dizer sobre o machismo estrutural na sociedade brasileira, e não falamos apenas de violência física, falamos também de representatividade.

Quantos eventos você participou que tinham lugares reservados à mulheres nas mesas de debate?

Arrisco dizer que foram poucos.

Então, reflitamos: se as mulheres são as que mais utilizam o transporte público nas cidades, como falar de segurança no sistema sem a presença feminina?

Esse questionamento foi base para uma iniciativa da sociedade civil em formular a Carta-Compromisso pela Garantia do Direito de Equidade e Paridade de Gênero na Construção de uma Mobilidade Urbana para Todas as Pessoas. 

Nós nos juntamos a esse movimento e você?

Saiba mais.

Além da equidade de gênero, outros pontos da mobilidade também são esquecidos

O colunista Miguel Pricinote aborda os 10 pontos que parecem ser óbvios mas são esquecidos diariamente pelos formadores de opinião e gestores públicos do transporte coletivo.

Entender o sistema de transporte coletivo é ponto chave na oferta de um serviço de qualidade e consequente atratividade de usuários.

E, falando sobre experiência do cliente…

Quem nunca ouviu falar sobre MaaS que atire a primeira pedra.

Caso sua resposta seja realmente não, eu vou te explicar (sem pedras, por favor).

O MaaS, ou Mobilidade como Serviço, é conhecido popularmente por ser uma aplicação integrada de mobilidade compondo vários serviços em uma mesma plataforma.

A gama de oportunidades e facilidades que o MaaS pode oferecer tanto para consumidores quanto para gestores entra numa corda-bamba quando falamos de sustentabilidade, inclusão e governança.

A Redação Agora é Simples realizou uma análise sobre as consequências não desejadas do MaaS e como se prevenir apontando dados importantes sobre o sistema.

De um lado empresas de transporte tentando se reerguer, do outro o governo querendo extinguir

A gestão Doria entregou na 2ª semana de agosto um projeto de lei que prevê a extinção de dez autarquias, estatais e fundações, entre elas a EMTU.

A EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo – é responsável pelo gerenciamento do transporte público sobre ônibus intermunicipal na Grande São Paulo, na Baixada Santista, na região de Campinas, região de Sorocaba, no Vale do Paraíba e no Litoral Norte de São Paulo.

A previsão é de que o Estado tenha um déficit de R$ 10,4 bilhões para o exercício de 2021. Logo, com a proposta, o governo espera economizar R$8,8 bilhões.

Outros modelos de negócio do setor também encontram obstáculos

A Buser, empresa de tecnologia que oferece uma alternativa para viagens com transporte fretado executivo por demanda, teve o serviço suspenso no Estado de Santa Catarina e Rio de Janeiro.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado de Santa Catarina (Setpesc) obteve liminares na Justiça Federal impedindo a operação no sistema de transporte interestadual nas cidades catarinenses.

Já no Rio de Janeiro, através de ação coletiva do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais, além de ter o serviço suspenso, a empresa foi acusada de “transporte clandestino”, nas palavras do juiz da 10ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.

É, não está fácil para ninguém.

Depois dessa, vou descer aqui.

Chegamos no ponto final. Mas não se preocupe, semana que vem tem mais!

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Manifesto em favor da paridade de gênero no setor da mobilidade urbana

O país necessita não somente da criação de novas políticas públicas, mas também da promoção, empoderamento e representatividade da diversidade em eventos e lugares de fala.

Foto: Anton Gvozdikov.

O pensamento machista é cultural e está presente em diversos aspectos da sociedade, como  política, televisão, empresas, cargos, prestígio social, entre outros. Há algumas décadas esse comportamento é tema de discussão das pessoas que lutam pela igualdade de gênero e principalmente contra o processo de silenciamento, além do mais, políticas de combate à desigualdade de gênero fazem parte da Agenda 2030 na construção de sociedades mais justas e sustentáveis. 

No entanto, o problema do machismo se encontra tão enraizado na sociedade que muitas vezes passam despercebidos. Exemplo disso foi o evento que ocorreu recentemente sobre o retorno seguro à mobilidade, no qual havia apenas palestrantes homens. O evento denominado como “Encontro Internacional – Retorno seguro das pessoas ao Transporte Público” apresentou falta de diversidade e representatividade feminina e foi tomado de críticas, abaixo-assinados e desistências do público.

O grande problema de eventos como esse é abordar o tema de segurança no transporte público sem consultar mulheres, ouvindo apenas homens, que não são o público principal dos transportes, tampouco o alvo de assédios e inseguranças. A diferença na experiência urbana para homens e mulheres é diferente.

Aqui cabe uma visão geral da situação da mobilidade brasileira. As mulheres são as que mais utilizam o transporte público e, de acordo com levantamento realizado pela Rede Nossa São Paulo em março de 2020, 43% das entrevistadas em São Paulo relataram ter sofrido assédio dentro de ônibus, trem ou metrô, sendo este o principal local onde ocorre esse tipo de situação.

O transporte público é o principal local onde mulheres afirmam ter sofrido assédio.
Fonte: Rede Nossa São Paulo: “Viver em São Paulo Mulher” (2020).

Segundo estudos da arquiteta Ines Sanchez de Madariaga, da Universidade de Madri, as mulheres são 25% mais propensas a fazer paradas ao longo do trajeto de ônibus do que os homens e, quando têm filhos, a quantidade de viagens aumenta 23%. Outro estudo realizado em três cidades da América Latina apontou que o transporte público é o 2º principal meio de locomoção de mulheres, ficando atrás apenas do andar a pé.

Logo, a necessidade da presença feminina nesses lugares de fala se mostra extremamente importante. As situações de negligências e falta de representatividade de grupos que são considerados minorias sociais significa na prática que tais pessoas e suas vivências não estão sendo consideradas no espaço público e na construção de políticas públicas. Pensar o retorno seguro aos transportes é diferente do ponto de vista da necessidade de homens e mulheres.

Em Barcelona, a perspectiva de gênero passou a ser considerada em todas as suas políticas públicas. Em Madri, grupos foram organizados para garantir que as necessidades das mulheres sejam levadas em consideração pela prefeitura. 

No entanto, infelizmente o Brasil vai na contramão desse processo. Dos vinte e seis secretários responsáveis pelo transporte, infraestrutura e mobilidade urbana dos seus respectivos estados, apenas três são mulheres. São elas Juliana Passarin, do Tocantins, Janainna Pinto Marques, do Piauí, e Elisabete França, que assumiu recentemente em São Paulo. Roraima nem mesmo tem uma secretaria específica na área.

Figura representativa de encontro mediado apenas por homens sobre assunto referente à mulheres em específico.

Recentemente, o caso da Larissa Almeida, de 21 anos, repercutiu na internet o que motivou a Universa a reunir depoimentos de mulheres que também sofreram assédio no transporte coletivo nos últimos anos. O problema estrutural presente na hora de falar sobre o futuro da mobilidade corrobora com a necessidade de mulheres falando sobre a volta segura ao transporte público. 

Outro exemplo importante a ser considerado é a quantidade de motoristas mulheres nas empresas de ônibus. De acordo com levantamento da SPTrans em 2019, a empresa apresentava apenas 2% de motoristas de ônibus mulheres no município de São Paulo e esse percentual é o mesmo nos três anos anteriores.

Todas essas violências, negligências e silenciamento de fala reforça a necessidade não somente de políticas públicas, mas também de promoção e empoderamento de mulheres. É fundamental que as mulheres possam conduzir essas conversas, pois elas são as únicas que podem dizer o que faz sentido, não tem como ignorar essas vozes em qualquer discussão sobre segurança ou o futuro dos transportes coletivos.

Para tanto, uma iniciativa da sociedade civil formularam uma Carta-Compromisso pela Garantia do Direito de Equidade e Paridade de Gênero na Construção de uma Mobilidade Urbana para Todas as Pessoas. A carta objetiva unir esforços e tornar as cidades 50/50, ou seja, com equidade de gênero na tomada de decisão e no debate sobre os temas relacionados à mobilidade urbana.

Pensando em como apoiar e articular o movimento, a ONBOARD decidiu contribuir com a demanda da Carta-Compromisso sobre se comprometer à “paridade de gênero e equidade racial em todos os eventos, painéis ou seminários sobre mobilidade urbana e urbanismo organizados pelos setores públicos e/ou privados, bem como audiências públicas organizadas pelo poder público”. 

Com isso, a ONBOARD tem trabalhado para construir uma rede de mulheres que podem dar um “aulão” sobre diversos assuntos na mobilidade, não só sobre ser mulher e usar transportes, mas qualquer tema sob a ótica feminina. Para fazer parte e contribuir com a rede, acesse o formulário de inscrição no Direção Feminina.

A página online de curadoria ficará disponível aqui no Agora é Simples.

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