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O transporte público por um fio: o Projeto de Lei que visa subsidiar o sistema

Caso não haja incentivos financeiros da União, o transporte público pode entrar em colapso até o final do ano

Foto: WRI Brasil

O serviço de transporte público brasileiro pode ser totalmente paralisado. Os prejuízos no setor giram em torno de R$ 3,72 bilhões este ano, com queda de 60% no número de passageiros durante pandemia, de acordo com o presidente-executivo da NTU, Otávio Cunha.

O setor de transporte rodoviário também apresentou redução de R$ 3,6 bilhões na arrecadação de bilhetes no segundo trimestre de 2020 e o número de passageiros caiu 73% entre os meses de abril e junho do mesmo ano, de acordo com a Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).

A fim de mitigar os efeitos da pandemia no setor, o auxílio destinado aos sistemas de transporte coletivo por meio de apoio financeiro da União, que estava disposto na Medida Provisória 938, foi retirado. Agora ele será apresentado como Projeto de Lei para ser votado no dia 29 de julho de 2020 e envolve um auxílio de até R$ 4 bilhões.

O Projeto de Lei (n. 2025/20) institui o Programa Emergencial Transporte Social, o qual consiste na compra de créditos eletrônicos de passagens através de recurso destinado pelo Governo Federal. 

O Programa tinha sido proposto em parceria com Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana, Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), no início de junho de 2020.

De acordo com o Projeto, cada crédito corresponderá a uma tarifa pública vigente no sistema de transporte público coletivo por ônibus de cada município, ou região, e serão destinados preferencialmente aos beneficiários dos programas sociais federais e/ou municipais existentes.

Os recursos serão disponibilizados a todas as capitais de Estado, ao Distrito Federal e aos Municípios com população superior a 300 mil habitantes, ou integrantes de Região Metropolitana com mesmo contingente habitacional.

Segundo o Projeto, os recursos poderão ser usados para aquisição de bens essenciais; reforçar frota para atender demanda durante pandemia; pagamento de salários atrasados; pagamento direto de valores para reequilíbrio de contratos; contratação de prestação de serviços de transporte de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida em veículos adaptados; e outros meios admitidos em ato do Poder Executivo.

Enquanto o apoio ainda precisa ser aprovado, empresas de transporte lutam contra um novo golpe em suas finanças…

A desoneração da folha de pagamento, benefício concedido em 2011 para 17 setores da economia, corre o risco de chegar ao fim em 2020. A cobrança previdenciária de empregados, na qual o transporte público se inclui na isenção, tinha previsão de término ao final deste ano, mas a crise econômica torna necessária uma extensão do prazo, segundo especialistas.

De acordo com estudo realizado pela Associação das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o fim do benefício coloca em risco 405 mil empregos diretos e aumenta em até 5% os custos de operação do setor a partir de janeiro de 2021, o que envolve o aumento do valor de transporte.

Para minimizar esse impacto, o Congresso Nacional aprovou, por meio da MP 936, a extensão do prazo até 2021 sob o argumento de preservar empregos e dar fôlego aos ramos que mais empregam no Brasil.

No entanto, em junho de 2020, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sancionou com vetos a MP. Entre os pontos vetados está a prorrogação até 2021 da desoneração da folha de pagamento de empresas de 17 setores da economia.

Assim, quando um presidente veta trechos de um projeto aprovado pelo Legislativo, os vetos são analisados por deputados e senadores. Para isso, a medida segue em deliberação.

“Se os governos não socorrerem as empresas, não socorrerem o transporte público nesse momento de crise, o serviço vai virar o caos. Se o fim da desoneração vier, é mais problema. As empresas vão paralisar rápido. Não é somente o problema do desemprego, o serviço vai parar”

– Otávio Cunha, presidente-executivo da NTU.

O futuro do transporte público se encontra nas mãos de poucos, e as próximas semanas serão decisivas em suas perspectivas pós-crise. 

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Isso é obrigatório.
Isso é obrigatório.

NTU propõe Plano Emergencial no Transporte Público para evitar quebras

O Ministério da Economia analisa a proposta e o Congresso Nacional tem aplicado algumas medidas no transporte público coletivo

Foto: Alf Ribeiro.

A pandemia gerou um impacto enorme no setor de transporte público, entre o início da quarentena até 30 de abril, 314 cidades tiveram uma média de 25% de redução na oferta de ônibus em todo país – com percentuais variados – sendo que 181 apresentaram paralisação total do serviço, de acordo com levantamento realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Além da redução na frota, houve queda de 80% no número de passageiros transportados na média nacional, ou seja, o transporte continuou sendo ofertado em volume acima do número de passageiros transportados, o que causou grave desequilíbrio financeiro. Estima-se que os prejuízos chegaram a R$2,5 bilhões mensais em março, caindo ao longo de abril para R$ 1,1 bilhão/mês, segundo cálculos da Associação.

Diante de um cenário crítico, o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana, a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) elaboraram o Programa Emergencial Transporte Social, endossado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), o qual foi proposto ao governo federal como solução para o transporte público.

O Programa consiste em um valor repassado pelo poder público para que possa suprir o desequilíbrio econômico das empresas de transporte, onde, no caso, será destinado à créditos eletrônicos de transporte (passagens) para beneficiários de programas sociais federais, como o Bolsa Família e o Auxílio Desemprego. A proposta é que o valor seja repassado enquanto persiste a crise da Covid-19, assegurando liquidez aos operadores. 

“Não estamos pedindo auxílio financeiro, mas propondo a venda antecipada do serviço para atender aos mais necessitados. Trata-se de medida emergencial, decisiva para manter a operação do transporte público”

Otávio Cunha, presidente executivo da NTU.

O valor da compra de passagens seria destinado a ajudar a cobrir a folha de pagamento das empresas, sendo priorizado o pagamento de salários para as pessoas que se enquadram em situação de risco e foram afastadas do trabalho, e a compra de combustível, para evitar quebra e manter uma operação mínima nas cidades. 

Para os clientes do transporte público, de acordo com a proposta, os créditos podem ser utilizados ao longo dos 12 meses seguintes à aquisição, em horários fora do pico, sem validade após esse prazo. 

A proposta foi encaminhada ao Ministro da Economia, Paulo Guedes. Como forma de dar encaminhamento, o Ministério da Economia organizou um grupo técnico de trabalho com participação da NTU para discutir alternativas. O grupo se reúne por videoconferências regularmente, mas até o momento não conseguiu definir soluções concretas.

Em abril, durante entrevista coletiva, Paulo Guedes defendeu que parte dos recursos do programa Pró-Brasil, destinados para recuperação econômica da crise gerada pelo avanço do novo coronavírus, fosse revertida para o financiamento do transporte público. No entanto, o que se tem até agora é um interesse muito maior sobre esse assunto pelo Poder Legislativo do que pelo Executivo Federal.

Para isso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional) encaminhou ofício ao Ministro da Economia, Paulo Guedes, solicitando a atuação e os esforços de seu ministério para a aprovação do Programa Transporte Social. A Ordem destaca que o transporte é “direito social” consagrado pela Constituição Federal e serviço essencial (art. 30, inciso V), cujo objetivo é contribuir na garantia de outro direito constitucional, ou seja, o direito de ir e vir (art. 5°, inciso XV), sendo que, notadamente, o transporte coletivo urbano é a figura em destaque nesse contexto.

Outras medidas de auxílio estão sendo aprovadas, no meio tempo, com foco no transporte público no país, como Curitiba (PR), Vitória (ES), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Goiânia (GO), João Pessoa (PB), Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA). No entanto, para a grande maioria das cidades, o futuro do transporte público coletivo é uma incógnita, especialmente no pós-pandemia. 

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