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O papel do bom gestor no transporte público

E o que fazer para ser um. Parte 6 da série especial de artigos de Rafael Pereira sobre o dia dia e a gestão de sistemas de transporte público

Photo by Danilo Alvesd on Unsplash

Veja mais artigos da série especial de Rafael Pereira

  1. Transporte público de pessoas
  2. Pesquisa de campo no transporte público: você precisa saber disso
  3. Dimensionamento de frota no transporte público
  4. Trabalhando com Estimativas de Custos e Receita no transporte público
  5. Indicadores de Desempenho no Transporte Público

Agora vamos falar sério, vai. Você sabe o que é gestão? Sabe qual a importância do seu papel como gestor? Vou buscar a definição de gestão e gestor, veja se encaixa ao seu perfil:

“Gestão: Gerir é tomar decisões, do tipo planejamento, organização, direção e controle, de forma que a empresa (entidade) consiga atingir os seus objetivos (eficácia), com recursos adquiridos aos melhores preços (economia), com os consumos mínimos de recursos (eficiência), promovendo o bem estar e a realização das pessoas envolvidas (ética) e de uma forma “amigável” com o ambiente, respeitando-o e conservando-o para as gerações vindouras (ecologia). Com especial ênfase na Administração Pública, há uma outra restrição fundamental à qual a boa gestão tem de estar sujeita: o cumprimento da legalidade.” (Armindo Costa)

“Gestor: Indivíduo responsável pela administração e pelo gerenciamento (planejamento, organização, controle e direção) dos bens ou dos negócios que pertencem a outra pessoa, empresa ou instituição; tem como objetivo utilizar os recursos materiais com eficácia e economia e os recursos humanos com ética é liderança.” (Dicio.com)

Definições descritas, e aí se encaixa ao seu perfil? Não? Então sinto lhe dizer mas faço a seguinte afirmação: Muitos se tornam gestores por serem bons técnicos, porém são ineficaz em gerir, são péssimos em delegar e acabam acumulando toda a demanda de trabalho da equipe em si, o que sempre gera conflitos.

Um gestor cria um elo de confiança com a equipe, delega responsabilidades e integra o grupo, cada um com suas expertises, todos são diferentes, haverá conflitos, porém o gestor é o mediador, promove o engajamento, treinamento, feedback construtivo positivo e negativo, e intercepta os problemas de comunicação revertendo-os em transmissões eficazes.

O fato de existir gestores inadequados no mercado não provém apenas do indivíduo, as instituições têm 70% de culpa sobre esse problema congênito, pois normalmente é mais econômico promover alguém que esteja engajado internamente com know-how do negócio, porém nem sempre há de fato liderança pré-existente no indivíduo. 

Os planos de carreira nas empresas deveriam estimular e propor formas de desenvolver a liderança nos futuros gestores e no transporte público não é diferente, as interações são diversas, setorizadas em níveis micro e expandidas em nível macro, e para promover uma gestão eficaz nessa área, o líder deve conhecer bem as partes envolvidas a qual abordaremos abaixo

Partes envolvidas

No meu primeiro dia de trabalho imaginava eu: “- O que estou fazendo nessa garagem?” “- Cara vou planejar a contar moedas?” “- Que gestão existe aqui?” “Deve ser uma bagunça, Oras…” “Não vou ficar um mês…”… Bom, se passaram 8 anos e ainda estou no ramo.

Transporte de pessoas é muito mais abrangente do que se pensa, e a principal interação é com o munícipe, esse é o cara que dita as regras, qualidade, pontualidade e todas as necessidades operacionais são voltadas para o munícipe. 

Manter um canal aberto com a comunidade é de extrema importância para a sobrevivência de uma empresa de transporte público, afinal esse é o cliente a espera de um serviço prestado com eficiência e o gestor tem como principais tarefas planejar, executar e acompanhar operacionalmente a entrega do serviço.

Temos na outra ponta as pessoas que trabalham arduamente para entregar o serviço da melhor forma possível e com o máximo de excelência, que são os motorista e a equipe de execução, normalmente representam de 60% a 80% da composição de uma empresa de transporte público, são pessoas que estão diariamente na linha de frente sete dias por semana 24h por dia executando o programado pela equipe administrativa, atendendo as necessidades da comunidade. 

O papel do gestor é extremamente importante no engajamento e motivação das equipes que atuam em campo e estão sujeitas a todos os tipos de intempéries que se possa imaginar como: acidentes de trânsito, brigas, assaltos, problemas pessoais, entre outros. 

Cabe ao gestor estar preparado para exercer o papel de liderança e contornar todas essas situações de forma que o usuário final não saia prejudicado em seu deslocamento e a equipe operacional na outra ponta possa operar com dignidade e o máximo de conforto possível.

Quando existe conflitos trabalhistas entre a empresa e os funcionários, há o intermédio do sindicato que é uma associação representante dos funcionários, que é previsto em nossa constituição, nas empresas de transporte público a participação sindical é muito forte e a aderência dos funcionários à entidade é extremamente alto.

Um gestor que se preze mantém um bom relacionamento junto a associação para resolver e agregar prontamente problemas que possam surgir, estar preparado para resolver tais demandas que inevitavelmente são diárias e praticamente um checklist rotineiro. 

Uma empresa paralisada por falta de gestão e negociação de um gestor normalmente pode gerar danos severos e irreversíveis que podem chegar na casa dos milhões dependendo da quantidade de dias de paralisação, estar atento às leis trabalhistas cumprir e vigorar as regras pré-estabelecidas em acordo coletivo é primordial para evitar dores de cabeça, além das individualidades diárias de uma “garagem de ônibus”.

Quando os conflitos são com os munícipes e a comunidade, o órgão gestor (secretaria responsável e representante do governo) é quem cuidam da intermediação, fiscalização e determinação das regras de prestação de serviço e cumprimento do contrato de concessão ou permissão de operacionalização no município ou estado de atendimento. 

O gestor deve se fazer presente para solucionar e fazer cumprir as determinações previstas em contrato para atender da melhor forma possível o contrato de operacionalização, não é só soltar veículos de qualquer forma na rua, existem diversas normativas a serem seguidas e que se não cumpridas geram penalidades e desembolsos altos para as empresas. 

Citei de forma bem sucinta alguns dos elos de convivência na interação diária entre as partes envolvidas no transporte público, claro que é muito mais abrangente e eu poderia abordar conteúdo para um livro com volume significativo, porém a intenção deste artigo é abordar a importância da capacitação a nível de gestão e a importância da liderança nas abordagens com os diversos tipos de indivíduos que fazem parte da máquina de fazer transporte. 

Terminamos assim o pacote inicial sobre o tema Transporte Público de Pessoas, aconselho que se não leu, leia os artigos anteriores, são extremamente importantes para o entendimento e fluxo mental deste artigo.

Gestor, lembre-se:

“Seu nome, sua índole, sua honestidade são marcas que perpetuaram durante sua trajetória e serão crivadas no livro da sua história de vida.” (Rafael Pereira)

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Trabalhando com Estimativas de Custos e Receita no transporte público

Mais um conteúdo prático voltado aos gestores do transporte urbano de pessoas na coluna de Rafael Pereira

Demorei mas voltei, ufaaa…

Caro colega, antes que comece essa leitura quero lhe dizer algo e sinto ao lhe dizer isso: se você sonha em um dia ser um exímio administrador, gerente ou CEO e não sabe lidar ou pelo menos busca compreender o básico do conceito de estimativas e controle de custos e receita, infelizmente você será apenas um sonhador.

E se você já tem carreira consolidada nessas posições e não conhece o básico do tema abordado, infelizmente exímio você não é, e a empresa que você administra corre sérios perigos.

A gestão de custos e despesas está em toda parte, desde o café da manhã em sua mesa até a gasolina que você coloca em seu carro, afinal o esforço do seu trabalho lhe gerou uma renda que deve ser usada com sabedoria, caso contrário, você terá dificuldades em manter seus gastos e continuar gerando riqueza, e em uma empresa não é diferente e por meio da estimativa de custo é possível antecipar o equilíbrio, as necessidades, qualidades e liquidez de uma corporação.

Entenda a analogia feita acima e terás retornos significativos. Não prolongarei extensivamente a prosa, rascunharei o básico para que um (a) entusiasta de transporte público possa conhecer, caso lhe interesse aconselho a se aprofundar nas teorias avançadas.

Existem diversos artigos ótimos de especialistas sobre o assunto. Tenha como exemplo os dados abaixo da linha M12TRO a qual fizemos dimensionamentos anteriormente, façamos as análises:

Trataremos apenas do resultado operacional, iniciamos com alguns conceitos que encontrei em uma apostila que utilizei na FGV, segue abaixo:

Gastos

Gasto é um valor usado pela empresa na aquisição de outros bens ou serviços. Ele corresponde a um esforço financeiro e pode ser efetivado no momento da aquisição ou posteriormente.

Custos

Custo é a parte do gasto que se agrega ao produto. É a parcela do esforço produtivo que é transferida ao produto. Em uma visão mais ampla, pode incluir também as perdas, isto é, aquela parcela do esforço produtivo que deveria ter sido agregada ao produto (bens ou serviços).

Custos diretos 

São aqueles alocados diretamente aos produtos ou objetos de custo, considerando a unidade de produção, não necessitando de rateios.

Custos indiretos 

São os custos que beneficiam toda a produção, mas não são identificados com cada produto ou serviço específico, referem-se aos custos de apoio à produção. São os que, para serem incorporados aos produtos, geralmente necessitam da utilização de algum critério de rateio.

Custos fixos 

São aqueles que não sofrem alteração de valor em caso de aumento ou diminuição da produção. Independem, portanto, do nível de atividade. São conhecidos também como custo de estrutura. Segue exemplo:

Custos variáveis 

São aqueles que variam proporcionalmente de acordo com o nível de produção ou atividades. Seus valores dependem diretamente do volume produzido ou volume de vendas efetivado num determinado período. Segue exemplo:

Despesas

As despesas são gastos que não se identificam com o processo de transformação ou produção dos bens e produtos. As despesas estão relacionadas aos valores gastos com a estrutura administrativa e comercial da empresa.

Despesas fixas 

São os gastos não associados ao custo de um produto, ou seja, é sempre o mesmo independente dos custos de produção e venda. Segue exemplo:

Despesas variáveis 

Despesas variáveis são aquelas que estão diretamente relacionadas ao volume de produção ou venda de seu produto ou serviço. Segue exemplo:

Perceba abaixo que existe uma tendência em os custos e despesas variáveis serem diretamente ligados ao esforço produtivo, já as contas fixas tendem a ser ligados indiretamente. Segue exemplo:

Demanda

É a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir por um preço definido em um mercado.

Receita

Receita refere-se ao valor da venda de produtos e mercadorias ou da prestação de serviços durante um determinado período contábil.

Lucro

É o resultado da receita total menos todos os custos, despesas e outras deduções que surgirem.

Dado as informações básicas, vamos falar de alguns cálculos necessários para obtenção do resultado.

Ponto de Equilíbrio

Ponto de equilíbrio é a igualdade entre receitas e despesas. É o quanto é necessário produzir ou gerar em serviço para pagar os custos e despesas da operação. Existe diversos cálculos para abordar o tema e diversas visões para cada setor, abordarei o formato mais simples para nossa utilidade. Segue cálculo e exemplo abaixo:

Margem de Contribuição

A margem de contribuição é a diferença entre a receita obtida e os custos e despesas variáveis, que servirá para pagamento dos custos e despesas fixos. Segue cálculo e exemplo abaixo:

Ebitda ou Lajida

A sigla Ebitda vem do inglês Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, ou Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização. É um indicador financeiro que informa o lucro de uma companhia antes de serem descontados o que a empresa gastou em juros e impostos, e perdeu em depreciação e amortização.

Com os dados acima, seguimos com um mini DRE da linha M12TRO:

Finalizamos aqui a pincelada bem básica sobre estimativas de custos, o tema é muito mais amplo do que abordei aqui, porém, acredito eu que exista especialistas capacitados como Controllers, Contabilistas e Analistas Financeiro que possam dar um baile de ações na empresa em que você trabalha, mas, você entender sobre o assunto faz toda a diferença, nos vemos no próximo tema que é sobre indicadores de desempenho.

Abraços!

Veja mais artigos da série especial de Rafael Pereira

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