Imagine cidades com diversos veículos no céu, repleta de locais de pouso e decolagem. Isso está próximo de se tornar realidade com o eVTOL
Empresas e montadoras estão buscando alternativas de mobilidade mais eficientes, além de trabalharem para viabilizar os carros elétricos e autônomos, o eVTOL (na tradução, veículo elétrico com decolagem e pouso vertical) é uma aposta para o futuro da mobilidade.
Conhecido popularmente como carro voador, tem sido projetado para utilização especialmente em cidades congestionadas ou em lugares onde há restrições geográficas, como parte de um serviço de táxi compartilhado.
O eVTOL está mais próximo de ser aeronave do que automóvel. Apresenta motor elétrico, promete ser silencioso e adaptado às cidades. Alguns podem apresentar módulo terrestre para andar no chão e a maior parte dos projetos possuem sistema de condução autônomo.
Pesquisadores da Universidade de Michigan apontam que para viagens de 100 km, um VTOL, veículo de decolagem e pouso vertical, totalmente carregado transportando um piloto e três passageiros apresentam emissões de gases de efeito estufa mais baixas do que os carros terrestres com uma ocupação média de 1,54. As emissões vinculadas ao VTOL foram 52% mais baixas que os veículos a gasolina e 6% inferiores aos veículos com bateria elétrica.
Para locomoção, as vias suspensas são alternativas viáveis para desafogar o trânsito nas cidades do futuro, segundo especialistas. A ideia é que o principal modo de condução seja autônomo, mas existem projetos que favorecem a pilotagem humana. A Porsche Consulting estima que em 2035 exista 23 mil modelos operantes.
A Voom, startup de compartilhamento de voos de helicópteros da Airbus, já opera em São Paulo. Com suas informações sobre mobilidade urbana aérea, será possível personalizar o serviço no projeto de transporte por eVTOLs. Com base nessa experiência, o responsável pelo desenvolvimento dos projetos na Airbus, Eduardo Dominguez, destaca que São Paulo deve ser uma das primeiras cidades a ter “carros voadores”.
A Redação Agora é Simples entrou em contato com a Major Aviadora Daniele Lins, Chefe da Seção de Planejamento de Sistema de Aeronave não Tripulada (DPLN) do Departamento do Controle do Espaço Aéreo (DECEA) para saber a respeito do uso de eVTOLs no Brasil.
O papel de DECEA, como órgão regulador de acesso ao espaço aéreo, é garantir que esses novos entrantes sejam inseridos no espaço aéreo em segurança, não só para todos os usuários do espaço aéreo, bem como para pessoas e propriedades no solo, conforme diretrizes da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional).
– Major Aviadora Daniele Lins.
Durante o evento Connected Smart Cities, a Major informa que o DECEA trabalha a mais de 75 anos na regulação de Aeronaves Não Tripuladas, popularmente conhecidos como drones. No Brasil, a primeira solicitação de acesso ao espaço aéreo foi em 2009 a pedido da Polícia Federal.
Hoje existe um trabalho do DECEA em conjunto com a ANAC e ANATEL para estabelecer um ambiente de atuação seguro. A ideia é garantir que não haja problemas tanto para o operador, no que diz respeito ao equipamento, quanto as pessoas e propriedades no solo no caso de uma colisão ou acidente do tipo.
Atualmente já temos UAM [Gerenciamento de tráfego do sistema de aeronaves não tripuladas] com os helicópteros que já operam nas cidades. O que se pretende, por parte da indústria, é tornar esse modal mais acessível à população, o que impacta diretamente na capacidade de absorção desses tráfegos no espaço aéreo, e é por isso que o DECEA participa do projeto, para estabelecer diretrizes que garantam operação segura para todos.
– Major Aviadora Daniele Lins.
Projetos de “carros voadores” em andamento
A Hyundai, montadora de carros coreana, apresentou um eVTOL em parceira com a Uber Elevate (subsidiária da Uber) durante a feira de tecnologia CES, em Las Vegas (EUA). O S-A1, eVTOL da empresa, pode levar até cinco pessoas e foi projetado para atingir até 290 km/h, altitude de navegação de 300 a 600 metros acima do solo e poderá fazer viagens curtas até 100 km de distância. A previsão é que o carro esteja disponível para o meio da próxima década.
A Toyota, montadora japonesa, patrocina o modelo da startup da Califórnia, Joby Aviation, que já produz aeronaves elétricas que podem sobrevoar até 240 km de distância a cada recarga e atingem até 320 km/h de velocidade. O modelo está sendo criado para serviços de transporte aéreo rápido e poderá levar até quatro pessoas. A data de lançamento será revelada em breve, de acordo com informações da Toyota.
Em 2006, a Terrafugia, empresa norte-americana, apresentou o protótipo Transition, uma aeronave que poderia ser guardada na garagem, mas não era um eVTOL e precisava de pista para decolar e pousar. Em 2017, a empresa foi comprada pela Geely, marca chinesa que também é dona da Volvo, para entrar na corrida pelo eVTOL. Assim, o modelo em construção é o TF-X, que poderá rodar nas ruas com dois motores elétricos e capacidade para quatro pessoas.
A Embraer X, braço para negócios inovadores da empresa brasileira, apresentou em junho de 2019 seu protótipo em parceria com a Uber Elevate. Com dez rotores e duas espécies de asas para dar sustentação, o veículo lembrará um utilitário-esportivo por dentro, segundo a aérea. Além disso, a ideia é ser o eVTOL para as massas. Porém, o projeto da Embraer X ainda é bastante embrionário e não divulgaram quando esses veículos entrarão no mercado.
As empresas Porsche e Boeing também apresentam um projeto embrionário com design bastante futurista e que já foi patenteado nos Estados Unidos. Pelos desenhos, o modelo 100% elétrico terá capacidade para apenas duas pessoas e possuirá quatro grandes hélices, com capacidade de pousar e decolar verticalmente.
A Lilium Aviation, startup alemã, desenvolveu um protótipo capaz de voar (sem passageiros) durante 35 minutos a uma velocidade de até 100 km/h. A Tencent, gigante chinesa de tecnologia, é uma das investidoras do projeto e a expectativa é que os primeiros veículos estejam operando em pelo menos três cidades a partir de 2025.
A fabricante franco germânica Airbus realizou o primeiro voo público do CityAirbus em julho de 2020, mas os testes já ocorriam desde o ano anterior. Pilotado remotamente, o CityAirbus tem autonomia para voar até 15 minutos, com uma velocidade máxima de 120 km/h e capacidade para levar até quatro passageiros.
Quanto custará o “carro voador”?
Por apresentar alta velocidade e consequente economia de tempo no percurso, os consumidores podem ser incentivados a compartilhar viagens. Assim, o projeto da Uber visa a criação do nicho de táxis voadores e, quando ganhar escala, o valor de uma corrida de mesma distância deve ser idêntico ao valor atual do Uber X.
No que se diz respeito aos modelos particulares, a expectativa é que, quando ganharem escala, sejam bem mais baratos que helicópteros, por apresentarem conceito de construção mais simples. Os preços poderão ficar bem mais próximos aos de automóveis que aos de aeronaves.
Um dos únicos modelos com perspectiva de preço é o Terrafugia TF-X, por cerca de US$ 150 mil, ou seja, com o dólar a R$ 5,37, o veículo pode ultrapassar R$ 800 mil.
Como as cidades vão se adaptar?
A infraestrutura é fundamental no processo de inserção desse novo modelo, visto que os projetos prevêem a capacidade de aterrissagem em varandas de apartamentos. No entanto, é necessário projetar edifícios com esse tipo de solução – algo ainda não previsto no Brasil.
Mundo a fora, a Uber firmou parceria com empresas de desenvolvimento urbano e imobiliário, como Hillwood Properties, para que no futuro os próximos edifícios sejam entregues com garagens e áreas de pouso e decolagem para os eVTOLs.
Será preciso a criação de rotas pré-definidas para o eVTOL, algo que não ocorre em grande escala com helicópteros. Isso porque, sendo um transporte barato e com a perspectiva de ser alternativa também para a mobilidade individual, o eVTOL deverá ser mais numeroso nos céus que os helicópteros.
Outro ponto importante é a necessidade de redes de recarga para os motores elétricos do “carro voador”.
E a regulação?
A existência de um novo meio de transporte pelos ares envolve vários tipos de regulação, como impostos, normas de privacidade, normas de dados, ruído permitido, condições urbanísticas, altitude para “rodovia” nos céus, integrar isso com os aeroportos e definir a regulação dos veículos.
Algumas empresas têm se articulado com reguladores de aviação dos Estados Unidos e da Europa em busca de aprovação do carro voador. A expectativa é que esses veículos encarem obrigações similares às encontradas por companhias aéreas.
As empresas se reinventam no quesito de barulho desenvolvendo tecnologias capazes de evitar que o som da turbina seja propagado no ar. Em relação à poluição visual, a ideia é que os veículos voem em alturas diferentes, entre 300 metros e 3 mil metros acima do chão, deixando o céu “livre”.
Além da certificação, ainda não há legislação específica à respeito de habilitação especial para voar, mas a tendência é que seja necessária habilitação semelhante a de pilotos de helicópteros. Porém, a ideia é que o eVTOL seja autônomo. Com isso, dispensaria habilitação especial, pois não haveria necessidade de pilotagem humana.
Para a Major, “o maior obstáculo desse serviço [aéreo] continuar crescendo é em relação a segurança”. Hoje, os riscos e obstáculos na área urbana envolvem variáveis como espaço aéreo, aeroporto, pessoas em ambiente terrestre, volume de aeronaves no céu, infraestrutura das cidades, presença de fios e outros.
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