Como funciona a biometria facial no transporte público?
Tecnologia de ponta pode auxiliar na combate ao uso indevido de benefícios nos ônibus
O setor de transporte coletivo normalmente transporta 45 milhões de passageiros/dia e, de acordo com levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), 1 em cada 5 passageiros não paga tarifa de ônibus, ou seja, 27% dos passageiros são beneficiados com descontos ou isenções tarifárias.
Idosos e crianças têm garantido por leis o direito de circular gratuitamente, ou com tarifa reduzida, no transporte público das cidades brasileiras. A gratuidade é assegurada desde a Constituição de 1988 e pelo Estatuto do Idoso de 2003, porém a extensão do benefício pode variar de acordo com a legislação do município.
Considerando os casos de benefícios tarifários no sistema de transporte público, a oferta deles pode custar mais às empresas operadoras caso não haja fiscalização e uso consciente do mesmo. Segundo informações levantadas por empresa do setor, somente em caso de cartões de gratuidade, o uso indevido ocorre em aproximadamente 25% das utilizações.
Ainda de acordo com a NTU, o impacto gerado pelas gratuidades no valor da tarifa do transporte público por ônibus é de, em média, 21,7%. Logo, pelo modelo de sustentação financeira atual depender quase exclusivamente do valor da tarifa paga pelo usuário, apresentando poucos casos de subsídio governamental ou outras fontes de receita, o uso indevido das gratuidades pode impactar negativamente o sistema de ônibus e no preço pago por todas as pessoas.
Com o impacto do benefício na receita do setor, pode haver perda de faturamento por meio da utilização indevida dos cartões de benefícios. Além disso, com a evasão tarifária causada pelo mau uso dos cartões de benefício, o valor das passagens aumenta fazendo com que o sistema de transporte público perca passageiros para outros meio de transporte.
O reconhecimento facial como solução
Além de ser uma tecnologia de ponta aplicada em sistemas antifraude, o reconhecimento facial representa a capacidade de recuperar um prejuízo de milhões de reais gerado pelo uso indevido de benefícios. É um sistema baseado na utilização de algoritmos de aprendizado contínuo, tornando o controle cada vez mais assertivo e eficiente.
O reconhecimento facial é realizado por meio de uma câmera integrada ao dispositivo de bilhetagem do ônibus. A partir do DBD – Dispositivo de Bilhetagem Digital da ONBOARD, fomos entender mais sobre como funciona o sistema de reconhecimento facial no transporte público. A câmera captura uma janela de 9 imagens sendo 1 segundo antes e 1 segundo depois do passageiro se identificar no DBD, podendo realizar através da apresentação do cartão de transporte, cartão bancário, QR Code e/ou NFC.
O armazenamento das imagens é feito no dispositivo e a capacidade é de 32GB, com possibilidade de expansão. A câmera fica o tempo todo funcionando no estado de validação (comercial) e essa janela é configurável e pode ser alterada dependendo da situação.
O motor de reconhecimento facial do DBD ONBOARD foi desenvolvido pela empresa Hoobox que utiliza bibliotecas de aprendizagem de máquina que são desenvolvidas em parceria com a Intel. Por ser uma Inteligência Artificial (IA) composta por inúmeros algoritmos, apresenta capacidade de reconhecer com precisão uma pessoa que, inclusive, tenha partes do rosto cobertas ou escondidas, devido à composição de imagens do banco de dados.
Devido à IA, o reconhecimento ocorre a partir da distância entre os olhos, o tamanho do nariz ou da testa, marcas e outras características, assim, mesmo com alguma obstrução, como máscara, óculos escuros ou barba, o sistema consegue identificar normalmente. Testes realizados pela ONBOARD em Apucarana/PR, entre os dias 15 a 19 de julho de 2020, mostraram que o software reconhece pessoas com máscara e boné juntos.
Logo, a partir do cadastramento do passageiro e/ou da passageira de ônibus, é registrado uma foto no banco de dados, o reconhecimento é realizado a partir da comparação da imagem capturada durante sua entrada no ônibus. As imagens são processadas pelo sistema informatizado e, caso o passageiro e/ou passageira esteja com o cadastro ou benefício aprovado e em dia, ocorre a liberação na hora da utilização.
Hoje, o papel do reconhecimento facial é altamente corretivo, servindo como análise posterior da utilização. Ou seja, as ações não acontecem em tempo real devido às condições operacionais do transporte coletivo e os altos custos da atividade. As fotos, então, são capturadas e armazenadas no DBD para posterior checagem, a fim de evitar casos de identificações errôneas.
Dessa forma, quando o ônibus chega na garagem, as imagens da operação são transmitidas via wi-fi para o servidor, neste, é aplicado um motor de reconhecimento facial avançado que, em segundos, informa as inconsistências do reconhecimento a partir de um score de análise parametrizável.
Se no processamento não for confirmada a similaridade entre as imagens capturadas com as armazenadas no banco de dados, ocorrerá uma auditoria convencional para inspeção visual e verificação da desconformidade, para isso, há necessidade de um time diverso, formado por colaboradores com perfis diferentes, reforçando a inclusão. Assim, cada empresa de transporte público apresentará instrumentos próprios para definir as providências aplicáveis a cada caso.
Melhoria no combate à fraude do sistema de benefícios no transporte público
Em Madri, na Espanha, um projeto-piloto da EMT – Empresa Municipal de Transportes da cidade espanhola, lançado em outubro de 2019, realiza o pagamento das tarifas de ônibus a partir de imagens capturadas do passageiro no momento em que passam pela catraca. O projeto foi uma parceria entre a prefeitura de Madri, o banco Santander e a empresa de tecnologia Saffe.
Para o projeto-piloto, os passageiros e/ou passageiras precisaram baixar um aplicativo da EMT gratuitamente no celular, realizar o cadastro, tirar uma selfie (autorretrato) somente do rosto e registrar dados bancários. Inicialmente, 100 passageiros foram cadastrados e o pagamento ocorreu apenas em uma linha de ônibus.
Uma vez registrado, o cliente necessita se posicionar em frente ao dispositivo e esperar a identificação automática. Segundo dados, a análise pode demorar 15 segundos e, aprovado, a tela do dispositivo emite uma mensagem de “boa viagem”. O valor da passagem então é debitado da conta bancária cadastrada. De acordo com desenvolvedores, os testes apresentaram 99% de resultados positivos.
A EMT assegura que o preço da passagem permanece o mesmo da tarifa convencional paga com o cartão e explica que o reconhecimento facial deverá ser opcional. O sistema inteligente não grava nenhuma imagem no ônibus, apenas cruza as informações do banco de dados com a foto tirada no ato do pagamento.
De forma semelhante, a China, líder mundial em pagamentos sem usar dinheiro ou cartão, está próxima de realizar transações sem nenhum dispositivo em mãos. O metrô de Shenzhen, uma das cidades chinesas mais modernas, faz testes em 2019 para pagamento de passagem por reconhecimento facial.
Nas catracas da estação de Futian foram instalados tablets que reconhecem o rosto de passageiros e passageiras utilizando tecnologia 5G, em seguida, o valor da passagem é debitado automaticamente da carteira virtual de clientes. Essa proposta flexibiliza a mobilidade urbana, pois deixa de lado o cartão de transporte, que pode ser utilizado apenas na rede de transporte, para a Bilhetagem Baseada em Contas (ou Account Based Ticketing, ABT).
A tecnologia desenvolvida pela ONBOARD apresenta uma solução compatível com a realidade do mercado atual, realizando uma leitura muito mais ágil. O tempo de leitura para cartão é de aproximadamente 100 milissegundos e, para a identificação facial, a captura de imagens ocorre de forma independente, pois armazenando imagens 1 segundo antes e um segundo depois da apresentação do cliente no DBD, o método permite maior agilidade, eliminando todo atrito no processo de embarque.
Além de maior segurança e praticidade para o cliente, para os sistemas de transportes, eliminar meios físicos significa também redução de custos. Logo, os investimentos em transformação digital são extremamente necessários para requalificar o transporte público, gerar economia operacional e restabelecer o interesse e demanda da sociedade por este serviço.
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