Potencial da Mobilidade como Serviço (MaaS) de sistemas internacionais e sua aplicação no Brasil
O Agora é simples reúne informações valiosas de iniciativas no segmento de Mobilidade como Serviço Internacionais e aponta tendências para o Brasil
As infraestruturas das cidades foram historicamente pensadas e construídas para promover e responder às necessidades dos automóveis particulares. No entanto, estes são os grandes responsáveis pelo congestionamento, estresse, perda de tempo, acidentes e poluentes causando problemas de saúde pública, além de influenciar um uso desigual do espaço público nas cidades.
Como alternativa viável, o sistema de transporte coletivo, se bem gestionado, pode solucionar os problemas indicados. Ou seja, o transporte público é uma alternativa para desafogar o trânsito das grandes cidades, constitui uma forma sustentável de substituir o automóvel, reduz a probabilidade de acidentes de trânsito, é um meio de transporte mais econômico que o privado, ocupa menos espaço urbano e ainda facilita a mobilidade do trânsito dentro das cidades.
Porém é necessário que haja um maior cuidado por parte das instâncias públicas e privadas que fazem a gestão e operação do mesmo. Pois hoje, o sistema se encontra em sua grande maioria desatualizado, “abandonado”, sem investimento suficiente para sobrevivência do setor, além de possuir uma concorrência desleal com outros sistemas que vem surgindo de forma desregulada e prejudicial para a mobilidade urbana.
Diante da necessidade de inovação, o conceito de MaaS, Mobilidade como Serviço, se apresenta como uma alternativa de grande potencial para promover essa transformação. Por ser precursor de uma combinação de mobilidade compartilhada, é capaz de promover eficiência em transportes com emissão zero, facilitando o acesso ao transporte público além de promover a mobilidade ativa, como caminhada e ciclismo, sendo uma excelente alternativa ao transporte individual.
Apesar do número de pessoas que estão migrando para o digital ser cada vez maior, o MaaS não se torna viável somente por isso, mas sim por poder alavancar benefícios esperados tanto para a sociedade quanto para o clima e para economia. No entanto, é necessário que existam abordagens mais inovadoras além do simples conceito de MaaS.
O MaaS sozinho não pode contribuir significativamente para atender às metas de sustentabilidade se implementado de maneira isolada e desregulada. O novo conceito deve apresentar um esquema de governança sólido, resiliente e flexível girando em torno de três pilares essenciais: parceria público-privada, o compartilhamento de dados de mobilidade urbana e a interoperabilidade entre os sistemas.
A parceria público-privada estabelecida de forma eficaz se destina a cumprir os objetivos da sociedade em termos de sustentabilidade, eficiência, inclusão e equidade. Conjuntamente, com o compartilhamento de dados de mobilidade, é possível estabelecer métricas de avaliação e metas a serem atingidas com a calibração exata para cada local. Ressalta-se também a necessidade do cumprimento de requisitos rigorosos em relação à segurança e privacidade dos dados a fim de fornecer condições viáveis para os provedores de serviços de mobilidade para acessar os dados operacionais.
Como o MaaS tem se tornado uma métrica cada vez mais aplicada pelo mundo, o Agora é simples realizou uma pesquisa de mercado a fim de entender as iniciativas no segmento de Mobilidade como Serviço Internacionais. Com base na documentação teórica, pesquisa e entrevistas com as empresas, trazemos informações valiosas a respeito de empresas que têm implementado o modelo mundo afora.
Finlândia e a Mobilidade como Serviço através da MaaS Global Ltda.
A MaaS Global Ltda. se auto intitula a primeira operadora de Mobilidade como Serviço do mundo e o caso na Finlândia se destaca como um caso especial na história da mobilidade como serviço por necessitar de um espaço legalizado e regulamentado por lei. Com início em 2009, o Ministério dos Transportes e Comunicações da Finlândia publicou a primeira estratégia de transporte inteligente do mundo definida como “uso de tecnologias de informação e comunicação para otimizar o sistema de transporte”.
Cerca de um ano depois, a Finlândia, como o primeiro país do mundo, reformou suas agências de transporte. Em seguida, o Ministério dos Transportes finlandês apresentou um relatório que começou a mudar a política oficial de infraestrutura para uma abordagem mais holística. Ou seja, houve nesse momento, uma estreita colaboração com diferentes parceiros, conjuntamente com investimentos em lobby e acompanhamento contínuo de parcerias, as operações do MaaS passaram a ser possíveis e viáveis na Finlândia.
A integração com o transporte público foi possível porque a Finlândia exigiu a abertura das bilhetagens. “Se o seu negócio está relacionado ao MaaS ou você possui uma empresa de ônibus, você precisa abrir seus dados em termos de certas interfaces – essa é a nova lei. Também existe uma lei que ajudou a abrir e agilizar todas as diferentes interfaces de pagamento. Se eu comprar uma passagem de uma empresa para uma viagem de ônibus, minha passagem pode e será integrada a outros serviços também.” , segundo Ulla Tikkanen, Gerente Técnico de Projetos, Sistemas de Mobilidade Inteligente e Direção Autônoma no Forum Virium Helsinki, uma organização pública na Finlândia.
Em entrevista ao Agora é simples, Jonna Pöllänen, Diretora de Mercados Iniciais da MaaS Global, compartilhou que os principais desafios para o progresso do rápido desenvolvimento do mercado MaaS são a abertura comercial de fornecedores de serviços de transporte para cooperação de terceiros; a prontidão técnica dos serviços de transporte públicos e privados; além de aceitar que a mudança de comportamento leva tempo e o MaaS está evoluindo em etapas.
“As leis e regulamentações locais podem, no entanto, apoiar a criação mais rápida do mercado MaaS, como foi feito na Finlândia (nova regulamentação chamada Lei sobre Serviços de Transporte) e na Bélgica (papel ativo de uma cidade de Antuérpia possibilitando a mobilidade como serviço).”
de acordo com Jonna em entrevista ao Agora é simples.
A partir da necessidade de um aplicativo dinâmico que possibilitasse o acesso a uma variedade de opções de transporte, o Whim surgiu. Segundo informações da própria empresa, o app permite reservar o meio de transporte, estabelecer os melhores horários para locomoção, rotas fixas, informações sobre estacionamentos, além de possibilitar diversos meios de pagamento, fornece uma comparação dos custos de possuir um carro ou de andar de transporte público para que o usuário possa embasar sua escolha.
De acordo com o SensorTower, o aplicativo “Whim – All your journeys” tanto na Google Play quanto no iTunes, não ultrapassa 5 mil no número de downloads.
Organização sem fins lucrativos para promoção do MaaS na América do Norte
A organização Open Mobility Foundation (OMF) é uma parceria público-privada para ferramentas de compartilhamento de dados de mobilidade urbana sustentável, de código aberto, independente de fornecedor, voltado para promoção da segurança e sustentabilidade dos meios de locomoção. A partir da junção entre cidades, setores tecnológicos e membros de diversas ONGs, a OMF desenvolveu uma plataforma de código aberto que possibilita a integração e compartilhamento de experiências para aplicação de metodologias flexíveis de acordo com as características de cada local.
A plataforma MDS, “Mobility Data Specification” foi desenvolvida a partir de uma contribuição da cidade de Los Angeles de sua base de código-fonte aberta. O MDS permite a comunicação direta entre as cidades e os usuários do direito de passagem pública, ou seja, o compartilhamento de dados entre cidades e provedores de mobilidade privada, como e-scooter e empresas de compartilhamento de bicicletas.
Hoje, já existe um padrão aberto para mobilidade urbana, no entanto, voltado principalmente para o transporte público, denominado General Transit Feed System (GTFS). Este padrão foi desenvolvido em 2005 pela TriMet e é utilizado em ferramentas como Google Transit, Moovit, CittaMobi e outras. Com a aplicação do GTFS, as ferramentas disponibilizam informações referentes ao transporte público, como rotas, pontos, linhas disponíveis e horários com base na sua localização e de forma intuitiva.
Após a crescente expansão do GTFS, as empresas sentiram necessidade de criar um padrão para o compartilhamento de dados de bicicletas compartilhadas, o que deu origem ao General Bikeshare Feed Specification (GBFS) em 2015. Assim, os dois padrões, GTFS e GBFS, deram origem ao MDS, que foi projetado para coletar dados de mobilidade de bicicletas compartilhadas, transporte público e até mesmo potencialmente outros serviços de mobilidade que ainda possam surgir. Dessa forma, embora semelhantes e com uma padronização que se baseia em uma estrutura voluntária “de baixo para cima”, em muitas cidades o MDS é mais “de cima para baixo” do que GTFS ou GBFS.
Ou seja, os padrões citados são normalmente adotados de forma voluntária e isso traz alguns desafios aos envolvidos. O GTFS, por exemplo, provou ser difícil para empresas pequenas de transporte público adotarem e ainda encontrou concorrência de plataformas proprietárias de gerenciamento de dados. Já o MDS, por ser um padrão administrado pela OMF, uma organização independente, sempre permanecerá atualizado, no entanto, se caracteriza como um modelo híbrido de padronização, porque muitas cidades estão obrigando seu uso por provedores de mobilidade.
De forma geral, os objetivos promovidos pela organização permeiam principalmente em inserir os municípios no centro da gestão de dados de mobilidade. Além disso, tem como premissa fornecer um ou mais conjuntos de microsserviços interoperáveis e reutilizáveis, usando aplicativos padronizados de código aberto e independentes do fornecedor, contendo um modelos de dados comuns amplamente reutilizáveis a fim de ser aplicado à diferentes necessidades das diversas jurisdições e populações.
A iniciativa pública para a criação de uma plataforma MaaS na Rússia
Em Moscou, na Rússia, a iniciativa do MaaS surgiu do Departamento de Transporte da cidade, que se encontra em negociação com operadores de aluguel de carros, patinetes, táxis e outros meios para adesão à plataforma unificada de MaaS. Não existe solução parecida hoje na região, sendo assim pioneira na oferta do serviço de compra de bilhetes em uma só plataforma para os diversos provedores da cidade.
“No momento, estamos tentando oferecer a oportunidade de pagar pela viagem com um único recibo. Por exemplo, você ia de metrô, depois usava o compartilhamento de carro – e então paga o custo total no aplicativo. No aplicativo você também poderá reservar imediatamente um carro de diferentes operadoras.“
de acordo com Maxim Liksutov, vice-prefeito de Moscou.
A estratégia proposta permite que o poder público entre com a tecnologia, e não só incentive o modelo por meio de legislação, como é o caso da Finlândia. No entanto, o projeto ainda está em andamento. De acordo com Liksutov, o gabinete do prefeito começou a combinar o serviço de pagamento de estacionamento, serviço de aluguel de bicicletas, agregador de táxi Citymobil e serviço de aluguel de scooter Urent em um aplicativo móvel.
Com isso, a previsão é que até o final de 2021 todos os serviços da cidade e operadoras de transporte privado, sites que reúnem dados de diferentes plataformas (agregadores de Internet), serviços de aluguel de bicicletas e scooters estarão conectados ao aplicativo. Os usuários também poderão ver o congestionamento das linhas de metrô e trens urbanos, transporte terrestre, estacionamentos pagos e estradas, disse o vice-prefeito.
Ainda, recentemente, a prefeitura de Moscou divulgou nota sobre o lançamento de um novo serviço de transporte de ônibus personalizado nos distritos de Troitsky e Novomoskovsky no primeiro semestre de 2021. A iniciativa é do Departamento de Desenvolvimento de Infraestrutura Rodoviária e de Transporte de Moscou, junto com o fabricante de caminhões KamAZ.
O novo serviço de transporte é uma iniciativa de MaaS que terá integração com aluguel de bicicletas, compartilhamento de veículos e táxis. Os passageiros poderão usá-lo por meio do aplicativo Transporte de Moscou onde precisarão traçar a rota desejada. Em seguida, o usuário receberá informações sobre quando e onde o ônibus irá parar, com possibilidade de reservar assento com antecedência. O pagamento da viagem estará disponível apenas por meio de um aplicativo móvel.
O MaaS em Londres com a empresa privada Masabi
A Masabi é uma empresa de tecnologia sediada em Londres que desenvolve e comercializa serviços de bilhetagem móvel para empresas de transporte público. A empresa possui soluções implantadas em Boston, Londres, Los Angeles, Las Vegas, Nova York, Nova Orleans, Atenas, em todo o Reino Unido, França, entre outras, com a pretensão de liderar a transição de pagamentos para Fare Payments as a Service, ou seja, Pagamento de Tarifas como Serviço.
A empresa permite que as agências e operadoras optem por uma abordagem de pagamento de tarifa como serviço o qual pode ser implantado com rapidez – já que todos estão usando a mesma plataforma e código- e economia. Isso permite que o sistema seja mantido e atualizado com frequência, pois os custos são compartilhados por todos os usuários, e todos os que usam a plataforma se beneficiam do aprimoramento constante de recursos e funcionalidades. Ainda, possui uma arquitetura aberta centrada em API que significa que a plataforma pode se conectar a sistemas existentes (ou novos).
De modo geral, a Masabi oferece tecnologia de pagamento de tarifas Fare Payments-as-a-Service (FPaaS) para agências de transporte público e operadoras de todos os tamanhos por meio da plataforma Justride. A plataforma fica disponível em uma base de compartilhamento de receita e assinatura, o que significa que as agências pagam apenas pelo que usam, quando o usam.
Além disso, há o SDK, um Kit de Desenvolvimento de Software, ou seja, uma biblioteca de software e um conjunto de APIs que permite a um desenvolvedor integrar facilmente serviços de um provedor a outro. Nesse caso, o Justride SDK permite que aplicativos de terceiros solicitem tipos de tarifas, façam pagamentos e entreguem passagens móveis visuais e com código de barras a um passageiro por meio de uma carteira de bilhetes segura.
A situação da Mobilidade como Serviço no Brasil
Embora as iniciativas lá fora estejam um pouco mais avançadas, o modelo MaaS ainda é embrionário e de baixa adesão. No entanto, ao considerar que o Brasil sozinho possui um mercado endereçável maior que a combinação de todas as soluções apresentadas aqui em conjunto, há um enorme potencial da aplicação no país ser bem sucedida.
Hoje, o desafio da implantação do MaaS não é em um cenário global, mas sim local, pois depende de negociações e acordos com provedores locais, depende da característica da mobilidade urbana local, além de questões legais e de governança.
A ONBOARD vem atuando nesse segmento há bastante tempo. Seu trabalho começou na integração dos próprios sistemas de transporte público que ainda não se integravam e, atualmente, se estendeu para outros provedores de mobilidade. Hoje, grande parte dos sistemas de bilhetagem são fechados onde somente a fabricante tem acesso às suas configurações, ou seja, seu desenvolvimento, manutenção e atualização dependem exclusivamente de seus fornecedores. Além disso, há a assinatura de contratos de exclusividade, impossibilitando muitas vezes a inovação do sistema e a ONBOARD desenvolve tecnologias inovadoras a fim de devolver a liberdade ao operador de transporte.
A grande inovação da ONBOARD que tem tornado possível o MaaS no Brasil é a sua plataforma de Bilhetagem Digital. Essa plataforma é composta por hardware e software que permite a integração tarifária, de gestão e de dados do transporte público com qualquer outro provedor de mobilidade e o que é ainda mais impressionante é que isso é possível sem a dependência de métodos de pagamento digitais por parte dos passageiros. Ou seja, com o próprio cartão de transporte atual é possível pagar pela utilização de múltiplos meios de transporte, o que aumenta o potencial de inclusão social da solução, além de desenvolver um sistema totalmente seguro.
Desafios enfrentados em outros países pela necessidade de abertura dos sistemas de bilhetagem locais não são mais um problema para o Brasil, pois a Bilhetagem Digital desenvolvida pela ONBOARD já é aberta. Além disso, a ONBOARD já iniciou o processo de integração do transporte público com provedores de mobilidade privados de atuação nacional. Desta forma, tendo a Bilhetagem Digital da ONBOARD, qualquer cidade ou sistema de transporte que queria habilitar a plataforma MaaS só fará um convênio, uma vez que toda a implementação tecnológica já estará feita.
Acompanhe em www.onboardmobility.com.
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