A Bilhetagem baseada em contas por usuário é a nova fronteira de inovação no transporte público
Os sistemas de bilhetagem eletrônica estão na maioria dos sistemas de transporte do país, como aponta a Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP).
Cerca de 86,5% da frota de veículos possui tecnologias para embarque, amplamente implementadas nos últimos 20 anos, com grandes experimentos à exemplo o Bilhete Único em São Paulo.
Hoje, milhões de brasileiros possuem um cartão de transporte que permite embarque em ônibus, trens, metrôs e VLT’s por todo o país.
Com o cartão, usuários encontram um transporte público mais seguro por diminuir o uso do dinheiro. Gestores, por sua vez, garantem antecipação de receitas, adquirem dados importantes sobre uso do sistema e agiliza no processo de acesso aos modais.
Apesar do grande alcance dessas tecnologias, novas soluções em bilhetagem foram surgindo com o passar dos anos, com a proposta de levar mais eficiência à gestão do transporte público.
Uma das propostas é a Account Based Ticketing (ABT), ou Bilhetagem Baseada em Contas. O sistema de bilhetagem ABT possui inúmeras vantagens, tanto para consumidores quanto empresas prestadoras de serviços de transporte, entre os principais estão a diminuição de fraudes, uma experiência sem atrito para usuários e mais controle por parte das empresas sobre suas operações.
Nesse texto você encontrará:
- A bilhetagem automática do século XXI
- Multicanal: uma premissa
- O futuro da bilhetagem no transporte público
- O transporte rodoviário integrado
A bilhetagem automática do século XXI: Account Based Ticketing
Um sistema de bilhetagem baseado em contas (Account Based Ticketing) está em nuvem, o que significa que cada usuário do sistema possui sua própria conta que pode ser acessada por meio de diferentes canais, como celulares, QRCodes e cartões. Nesse sistema, a mídia física não é a única detentora das informações, se tornando apenas um identificador que autoriza a viagem. Toda a operação é feita back-office, e manter os dados de acesso no back-office e não no meio físico, celular, cartão, etc. possui inúmeros benefícios.
A começar, é mais seguro, o token de acesso não é o saldo em si, mas sim um passe com tempo para acabar que acessa a conta no backoffice. Dessa forma, fraudes ficam mais difíceis.
Para empresários o corte de gastos em serviços e infraestrutura é inevitável e um grande ganho, além da multiplicação de canais: celulares, pulseiras, cartões contactless, entre outros, pontuando mais uma vez que em um sistema em contas os dados do usuário não ficam armazenados em um cartão físico e podem ser acessados a partir de qualquer mídia.
Toda essa expansão também vem acompanhada de flexibilidade. Os operadores podem mudar regras da tarifa, criar novos produtos, atualizar todo o sistema de forma integrada sem migrações de base, troca de servidores ou custos elevados.
Uma proposta brasileira utilizando-se deste conceito é o Bilhetagem Digital, da ONBOARD, startup responsável pelo primeiro chatbot de recargas do mundo.
A empresa desenvolveu um sistema multicanal que utiliza da bilhetagem baseada em contas e oferece uma série de novas tecnologias à usuários e empresas.
Segundo Marcel Cunha, CTO da startup, os benefícios da bilhetagem baseada em conta são diversos. Entre eles o acesso a informações mais detalhadas de uso do transporte público e possibilidade de relacionamento.
“Hoje você tem um sistema engessado, que é o cartão, onde empresas de transporte não têm contato com o cliente”, diz.
É o contrário do que startups e empresas inovadoras têm feito, prezando, sobretudo, por um contato próximo ao cliente.
Além disso, o dinheiro que um usuário tem no cartão de transporte pode ser utilizado apenas na rede de transporte. Com a chegada de novos serviços de mobilidade e a exigência de flexibilidade das novas gerações, a bilhetagem em nuvem expande o universo.
“A gente integra sistemas de transporte urbano em uma única plataforma e o propósito da OnBoard Mobility é fazer com que essa plataforma seja protagonizada pelo transporte público.”, afirma.
Ainda, segundo Marcel Cunha, o modelo de negócios do serviço Bilhete Digital permite redução de custos em implementação de novas tecnologias “o que devolve ao transporte urbano a competitividade necessária para competir com os atuais concorrentes e ter respostas mais rápidas às evoluções tecnológicas mais recentes”, conclui.
Multicanal: uma premissa
Algumas cidades pelo país já utilizam carteiras de pagamento para o transporte público, como Campinas e Jundiaí, no interior de São Paulo.
Nos diferentes casos, são usados novos canais: o QR Code no caso campineiro, e o cartão contactless em Jundiaí. Não somente, há experimentos com NFC (Near Field Communication), voz e GPS acontecendo por aí.
Mas ainda não podemos dizer que existe a ABT no Brasil, pois em Campinas os usuários precisam adquirir o saldo antes de acessar o transporte público, ou seja, a experiência possui o atrito que na ABT não é desejável. Já em Jundiaí, embora o acesso seja mediante saldo no cartão, o mesmo crédito não pode ser acessado em um smartphone ou relógio inteligente, por exemplo. Por lá, o sistema ainda é “centrado” no cartão.
Para existir a ABT no Brasil ainda são necessários alguns passos, como a Bilhetagem Digital da OnBoard citada acima, que visa diminuir ao máximo o atrito na experiência de compra e proporcional uma solução realmente multicanal. Com a ABT plenamente executada passageiros não precisam se preocupar em adquirir créditos ou entender tarifas, usando apenas um token seguro.
O futuro da bilhetagem no transporte público
Os avanços tecnológicos disponíveis são inegáveis e a necessidade de implementar soluções mais baratas e eficientes no transporte público nunca esteve tão visível.
Para termos uma ideia clara, dados da Associação Nacional dos Transportes Urbanos (NTU) revelam que o setor perdeu 25% dos clientes nos últimos 4 anos. É um sinal claro de como o serviço não está atendendo às expectativas dos cidadãos.
O transporte rodoviário também entra nessa
Cada vez mais integrada, a mobilidade entre cidades e estados também pode se beneficiar com a bilhetagem em nuvem. Recentemente empresas de transporte rodoviário tiveram autorização para emitir bilhetes eletrônicos de passagem.
Com isso, clientes não precisam mais ir até guichês, nem mesmo para retirar passagens compradas pela internet. Essa revolução permite integração entre modais – uma pessoa, usando a mesma carteira, compra sua passagem de ônibus para outra cidade e chega até a rodoviária pagando o ônibus com a mesma carteira digital.
Esse mundo integrado está cada vez mais próximo da realidade.
A ABT é um experimento interessante neste cenário. A tecnologia muda drasticamente os custos com a bilhetagem em sistemas de transporte e flexibiliza as possibilidade de uso e de atuação dos agentes deste mercado.
Para saber mais:
What is account based ticketing (ABT) in public transport?
Dos bondes ao Bilhete Único Digital: a evolução tecnológica do transporte público
Por que já existe banco sem agência mas não existe transporte público sem posto de atendimento?