Levantamentos sobre a relação entre o meio de deslocamento e o contágio de coronavírus apresentam dados diferentes para cada local
A relação entre transporte público e Covid-19 é um dos assuntos mais urgentes atualmente. Recentemente a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) divulgou uma pesquisa sobre desigualdade e vulnerabilidade no contexto de coronavírus nos municípios São Paulo. A pesquisa utiliza dados de mortes do Estado de São Paulo e cruza com a última pesquisa de Origem e Destino do Metrô, de 2017.
Com base no índice, a correlação entre o transporte público e a quantidade de mortes por coronavírus é de 80%, seguido por trajetos a pé (78%) e automóvel (39%). A análise ainda indica que autônomos, donas de casa e pessoas que utilizam transporte público diariamente são os que mais morrem por Covid-19.
Conjuntamente, as profissões – fornecidas pela pesquisa do Origem e Destino – que apresentaram maior índice de relação com as mortes pelo vírus indicada pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), aponta que autônomos, donas de casa e pessoas com carteira assinada explicam cerca de 80% dos óbitos. Esses dados reforçam a percepção de que pessoas que tiveram que continuar utilizando o transporte durante pandemia são as principais vítimas.
De acordo com a ÉPOCA, por razões socioeconômicas e sociodemográficas, o vírus matou mais pobres e pardos, mais homens que mulheres e mais jovens do que em outros países onde a pandemia inviabilizou sistemas de saúde, como na Itália e na Espanha.
No entanto, algumas cidades em Pernambuco apontam que a taxa de pessoas contaminadas pelo vírus que utilizam o transporte público diariamente é muito baixa.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco, com informações do Projeto D.A.D.O. da Prefeitura do Recife, constatou que, enquanto a quantidade de pessoas utilizando o transporte público aumentava na Região Metropolitana do Recife durante maio e julho de 2020, o número de óbitos e casos do coronavírus apresentava redução na capital.
Recife finalizou o lockdown na 22ª semana, ou seja, nos dias 24 a 30 de maio, e observou uma diminuição nos casos, inclusive partir da retomada das atividades econômicas. Com o passar dos dias, enquanto o transporte coletivo da RMR transportava mais passageiros, a capital registrava cada vez menos óbitos. A equipe de Artes do Jornal Communidade construiu um infográfico para demonstrar os dados.
Estudos pelo mundo também apontam que o transporte público não é vetor de coronavírus.
Estudo preliminar divulgado pelo governo de Nova York em maio de 2020 apontou que mais de 80% das hospitalizações registradas no período foram de pessoas que não usavam transporte público, apenas 4% das pessoas contaminadas pela Covid-19 afirmaram usar o transporte coletivo diariamente.
Mesmo com a preocupação, a demanda por transporte público no Brasil cai menos do que em outros países durante pandemia. Enquanto o Brasil apresentou queda de 51%, o continente europeu chegou à uma diminuição de cerca de 90% no transporte público.
Os estudos são, em sua maioria, exploratório e levantam ainda mais questões a serem estudadas. De todo modo, a relação de pessoas e transporte público têm se transformado. O aumento pela procura por bicicletas durante a quarentena pode impulsionar as cidades à oferecerem mais opções e estruturas para deslocamentos seguros.
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