A transição do consórcio responsável pelas linhas de transporte especial em Sorocaba inicia com impasses na primeira semana de agosto e preocupa quem mais depende do transporte
A gestão de ônibus especial em Sorocaba está passando por transição do consórcio responsável. Com mais de 20 anos de contrato, no final de julho de 2020, o Consor (Consórcio Sorocaba) e o STU (Sorocaba Transportes Urbanos Ltda) passaram a operação do transporte especial para o Consórcio Mobility Transportes, no dia 1º de agosto de 2020.
No entanto, a primeira semana de atividade foi repleta de contestações referente aos profissionais que trabalhavam nas empresas anteriores. O Consórcio Mobility destacou que não pagaria o mesmo salário e direitos oferecidos anteriormente, o que vai de encontro com a determinação do acordo coletivo de trabalho da categoria diante da troca de empresas, ou seja, a empresa deveria continuar ofertando condições iguais ou superiores para colaboradores.
Diante da situação, cerca de 80 profissionais, entre motoristas e agentes de bordo, estariam desempregados. Com isso, as pessoas começaram a se reunir para protestos em frente à Prefeitura de Sorocaba e em frente ao prédio comercial ao lado da sede do CIESP.
Conforme o Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba e Região, as pessoas trabalhadoras estavam reivindicando a admissão pela nova empresa, bem como o recebimento dos salários e outros direitos trabalhistas referentes ao período desde o 1º dia de atividades da Mobility. O sindicato chegou a solicitar uma reunião com a Urbes – Trânsito e Transportes e uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região foi realizada.
De acordo com pesquisa, a Prefeitura já repassou cerca de R$180 milhões para o Consórcio Mobility. Até o último dia 05, a categoria de trabalhadores e trabalhadores do transporte especial se reuniu para definir estratégias da luta por emprego, salários e direitos na troca de empresas a fim de se apresentar à empresa Consórcio Mobility Transportes para iniciar o trabalho. A redação tentou entrar em contato, mas sem resposta.
Quem sofre com tudo isso?
O ônibus especial é um serviço de transporte porta-a-porta regulamentado pelo Decreto 23.346/2017, destinado a atender as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, temporária ou permanente, em alto grau de dependência, impossibilitadas de utilizar o transporte coletivo urbano convencional, e é destinado preferencialmente para as pessoas socioeconomicamente vulneráveis.
De acordo com levantamento da redação, 753 pessoas dependem do transporte especial, sendo 490 cadastrados e 263 acompanhantes, além de 141 pessoas que se encontram na lista de espera para o atendimento. Logo, a indisponibilidade do serviço afeta diretamente as pessoas que dependem exclusivamente deste meio de transporte para se locomover.
Mesmo em momento de isolamento social, pessoas com deficiência e dificuldade na mobilidade dependem do sistema para consultas e tratamentos. Maria Livia, 24 anos, tem paralisia cerebral e é cadeirante. Em entrevista ao Cruzeiro do Sul, Maria estava há mais de um ano aguardando para iniciar as sessões de hidroterapia e começaria o tratamento em uma clínica de Sorocaba no dia 04 de agosto de 2020, no entanto, em meio ao impasse de empresas e colaboradores, não foi possível.
A mãe de Maria, Flávia Alessandra Ferreira, é fundadora da instituição social “Anjos sobre Rodas”, atuante na garantia dos direitos e da inclusão dos cadeirantes, aponta que muitas das crianças atendidas pelo projeto também tinham consultas médicas agendadas e não puderam comparecer por conta da falta de condução na primeira semana de agosto.
A filha de Kelly Cristina também utiliza o sistema e a preocupação é imensa. “Minha filha é acostumada com o motorista a mais de três anos e essa nova empresa não chamou nenhum desses bons motoristas”, Kelly comenta em rede social.
Além disso, Fernando Bellinassi, 38 anos, cadeirante que também usa o transporte especial em Sorocaba reforça o impacto que a mudança na rotina têm na vida de quem utiliza o meio.
“Quando muda a empresa, é uma rotina que os usuários têm. Então como cada usuário tem uma dificuldade e eles estão ali todo dia, os motoristas e os agentes de bordo acabam conhecendo bem cada um. Quando tem uma mudança assim, é difícil para o usuário se adaptar. Por que às vezes tem uma necessidade que o novo motorista não vai saber e às vezes o usuário não sabe falar… Quando é autista é pior, por que o autista sofre muito com a mudança de rotina. E sem falar PCD [Pessoa com Deficiência], a pessoa querendo ou não vê todo dia, então acaba se apegando também.”
– Fernando Bellinassi.
Na primeira versão constava “protestos em frente à garagem do Consórcio Mobility e no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)”. Em edição realizada pela Redação Agora é Simples em 27/08/2020, os protestos ocorreram em frente à Prefeitura de Sorocaba e em frente ao prédio comercial ao lado da sede do CIESP.
[crowdsignal rating=8915070]