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Causas sociais ganham destaque na mobilidade urbana

Estudos sobre os fatores que impactam a mobilidade urbana nas cidades garantem melhor desenvolvimento e maior qualidade de vida para a sociedade

Foto: Werther Santana.

A discussão sobre as condições de mobilidade urbana é muito importante para aumentar a qualidade de vida nas cidades. Com isso, em decorrência dos eventos em 2020, muitas articulações do setor começaram a abordar e tentar entender ainda mais as intersecções que ocorrem em decorrência de cor, gênero, classe social e econômica, entre outros fatores existentes.

O transporte mais comum do mundo é o caminhar, além de ser um dos indicadores mais confiáveis ​​sobre equidade urbana, resiliência, saúde, poluição do ar e qualidade de vida geral. Assim, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês), divulgou o relatório “Pedestres em primeiro lugar”, o qual aponta uma análise global sobre a mobilidade nas cidades.

O ITPD se dedica à promoção do transporte sustentável e equitativo mundo afora, focado na acessibilidade, redução de emissões de carbono e desigualdade social. Dessa forma, o estudo mostrou que as cidades brasileiras ainda falham em oferecer espaços caminháveis e serviços essenciais próximos para seus habitantes.

“Esse estudo deixou claro que o país precisa melhorar o acesso a pé de espaços públicos”

– Danielle Hoppe, gerente de Transportes Ativos do ITDP Brasil.

O relatório também inclui recomendações de políticas baseadas em dados que podem ajudar os líderes locais a melhorar a mobilidade de suas cidades. Ainda é possível comparar os dados em qualquer cidade global ou área metropolitana com população de 500.000 ou mais.

Seguindo a pauta de mobilidade ativa, uma iniciativa da AMoBici deu origem a Carta-Compromisso com a Mobilidade Ativa de Florianópolis, voltada aos candidatos à prefeitura, vice e vereadores. A carta foi divulgada no dia 13 de outubro de 2020 e apresenta foco nos assuntos de caminhabilidade, ciclabilidade e acessibilidade, as propostas estão estruturadas em três eixos: cultura, segurança e infraestrutura.

Na mesma linha, o ITDP em parceria com a WEDO (Organização de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Mulher, em tradução livre), construíram o artigo “Acesso para Todos: Acesso e Gênero”. O estudo mostra como os sistemas de transporte deixaram de levar em conta os diversos padrões e necessidades de mobilidade e fornece recomendações importantes para promover ações com perspectiva de gênero. 

Combate ao preconceito na mobilidade urbana

Quando falamos do transporte público no Brasil o comportamento das classes mais baixas é decisivo para qualquer tomada de decisão, entretanto, o aspecto da raça é por vezes ignorado, mesmo que no Brasil classe e raça estejam entrelaçados. O ITDP Brasil está realizando um estudo especial sobre o impacto do racismo estrutural na mobilidade, presente no projeto “A Cor da Mobilidade”. 

O estudo consiste em uma série de artigos acompanhados de entrevistas que serão divulgados entre os meses de setembro e dezembro deste ano. Na primeira publicação, há dados sobre os principais problemas no cenário brasileiro, sendo que o primeiro é a própria oferta de linhas de ônibus.

A operação de transporte normalmente é pensada para atender as áreas mais nobres e em horários distintos dos que moradores das regiões com população majoritariamente negra saem para o trabalho. Além ainda do valor da tarifa que pode comprometer cerca de 20% do orçamento das famílias brasileiras, segundo dados do IBGE.

“Gestores públicos têm ferramentas para mudar essa realidade. Construir e implementar políticas públicas que sejam sensíveis à raça são caminhos importantes para que o deslocamento de pessoas negras sejam mais seguros e acessíveis. As organizações da sociedade civil e a academia também precisam abordar esse assunto em suas agendas. ”

– Mariana Brito, Coordenadora de Comunicação do ITDP Brasil.

Além da questão racial envolto na mobilidade urbana, existe o machismo cultural. Como proposta ao combate à esse preconceito, uma carta-compromisso de equidade e paridade de gênero foi divulgada em agosto deste ano. A iniciativa recolheu 65 assinaturas, nas quais 13 eram de pessoas físicas e 52 de pessoas jurídicas.

Articulando em conjunto com a iniciativa, a ONBOARD decidiu contribuir com uma demanda da Carta-Compromisso. Como resultado, lançamos a plataforma Direção Feminina que reúne mulheres especialistas que podem falar sobre qualquer assunto em eventos direcionados à mobilidade urbana.

A mobilidade urbana é uma questão social e o estudo sobre os fatores que a impactam pode ajudar na coesão social. Ou seja, ao entender a mobilidade como um todo, pode-se direcionar ações práticas nas áreas social, econômica e territorial impostas sob um regulamento comum para todos, garantindo a equidade e paridade em todos âmbitos.

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