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Reconhecimento facial e LGBT+, os desafios de uma tecnologia de massa

Casos de drag queens, transgêneros e pessoas não-binárias bloqueadas pelo reconhecimento facial no transporte público acendem um alerta sobre algoritmos e treinamento de funcionários

Há algumas semanas a SPTrans divulgou que em dois anos mais de 311 mil bilhetes únicos foram bloqueados por uso irregular, principalmente de benefícios como estudante e idoso. Os bloqueios acontecem a partir do reconhecimento facial dos portadores do cartão no momento de passar na catraca. Segundo a própria SPTrans, todos os ônibus estão equipados com câmeras. 

A despeito do objetivo de diminuir fraudes que retiram dinheiro dos cofres das empresas de transporte, o sistema hoje permite até que o Bilhete Único não seja mais produzido com a foto do usuário, já que esse método de identificação ficou ultrapassado. 

Mas no mês do orgulho LGBT+ precisamos dar luz à como uma tecnologia massiva não dá conta de identidades diversas. Fontes ouvidas pelo Agora é Simples relataram o enfoque negativo que essa tecnologia oferece a pessoas LGBT+.

Joana, ex-funcionária da RioCard, companhia que regula o cartão de transporte do Rio de Janeiro, reconhece que o sistema na capital carioca é falho e que por diversas vezes pessoas trans e travestis tiveram seus cartões bloqueados por não serem reconhecidas pelo sistema nem pelos operadores. 

Uma vez implementado o sistema de reconhecimento facial nos ônibus a rede de operadores humanos não é desativada, como a tecnologia não é precisa as pessoas entram para dar a última palavra no bloqueio ou não. Nesse momento, tampouco pessoas trans são legitimadas. 

O caso abaixo mostra uma pessoa montada como drag queen e que teve seu cartão bloqueado em São Paulo. 

Apesar do bom tom da postagem, casos como esse não deveriam acontecer, considerando que as imagens são vistas por humanos após a detecção do algoritmo.

Especialistas comentam os limites do reconhecimento facial

Sidélia Silva, mestra em Política Pública e Desenvolvimento pelo Departamento de Ciência Política da Unicamp foi ouvida pelo Agora é Simples e afirma ser necessária uma auditoria dos algoritmos, além da ampliação da diversidade nos espaços de produção tecnológica e, mais especificamente, onde são verificados caso a caso os bloqueios a partir da biometria facial. 

“A tecnologia é um meio, onde na entrada tem um humano e na saída um humano, não é um fim em si mesma. Há quem defenda a auditoria de algoritmos, pois as pessoas criam algoritmos para corresponder sua expectativa em relação a algo. A auditoria de algoritmo vai auditar quem está criando”. 

Segundo a pesquisadora, em uma sociedade marcadamente preconceituosa, os algoritmos tendem a reproduzir essas características “estamos em estruturas racistas e transfóbicas, e essas pessoas não estão nesse mercado, não produzem essa tecnologia, pois esses espaços significam também poder e essas pessoas são marginalizadas, isso acarreta prejuízos às empresas pois não conseguem lidar com a diversidade”

Os Keys, pesquisador do Departamento de Design e Engenharia Centralizada Humana da Universidade de Washington, publicou o artigo “The Misgendering Machines: Trans/HCI Implications of Automatic Gender Recognition” (sem tradução exata para o português) onde aborda os últimos 30 anos de pesquisa sobre reconhecimento facial. 

Keys aponta que tais estudos desconsideram pessoas trans e não binárias, ou seja, que não se conformam com os signos ditos femininos e masculinos e transgridem a norma. 

Em entrevista à Vice americana Keys diz que “quando construímos um conjunto particular de valores, em novos espaços e novos sistemas, não apenas tornamos os espaços e sistemas exclusivos e tornamos mais difícil ter um mundo mais inclusivo no geral, estamos também nos comunicando com pessoas que tentem entrar – ‘é assim que funciona o gênero, essas são as categorias nas quais você pode viver, é assim que o seu gênero é determinado”, explica o pesquisador. ‘Qualquer conflito ou dissonância que você tenha com isso é problema seu porque esta é uma tecnologia imparcial’”. 

De acordo com essas perspectivas, estamos automatizando os preconceitos que a sociedade têm. 

O outro lado

Sobre o assunto, a SPTrans foi procurada e em nota afirma: 

O algoritmo de reconhecimento facial utiliza a distância entre partes da face como parâmetro de reconhecimento, sendo assim, consegue distinguir pessoas com maquiagem e peruca, por exemplo. Vale ressaltar que o software não cancela os cartões automaticamente. Após a análise sistêmica, técnicos da SPTrans comparam a foto do cadastro da pessoa com a foto captada pela câmera do validador do ônibus para examinar a semelhança entre as imagens.

Os técnicos se deparam diariamente com casos em que há diferenças nas fotos, tais como corte de cabelo, barba, bigode, óculos, envelhecimento, maquiagem, entre outros; nessas situações, buscam eliminar todas as alternativas que possam gerar a diferenciação da foto do validador com a do cadastro para evitar bloqueios indevidos.

Desde 2010 o usuário do Bilhete Único personalizado pode solicitar que o seu cartão seja emitido com o nome social, para isto basta escolher esta opção quando realizar o cadastro. O nome social também é analisado pelos técnicos e pode ajudar na identificação do usuário do cartão.

Ainda assim, quando a pessoa tem o Bilhete Único bloqueado pode apresentar justificativa à SPTrans e reaver o benefício, desde que comprove o uso regular do cartão.

Essa matéria faz parte da série especial do Agora é Simples para o mês do orgulho LGBT+. Leia a primeira publicação: Mobilidade LGBT+: o transporte público como espaço seguro para todes. 

Mobilidade LGBT+: o transporte público como espaço seguro para todes

A nossa mobilidade LGBT+ é uma luta diária e um desafio para a gestão pública

O conceito do brasileiro cordial é cada vez mais desnudado em nosso país com a polarização que tomou corações de todo o espectro social e político e deu abertura para discursos e atitudes de ódio.

Com a queda de certas máscaras conseguimos olhar com clareza para os dados sobre a violência no Brasil e podemos perceber os números alarmantes e semelhantes a Estados em guerra que temos.

Junho, mês do orgulho lésbico, gay, bissexual e transgênero, desde a revolta de Stonewall, é uma oportunidade de levantar o debate sobre o espaço do transporte público e da mobilidade urbana para esse grupo extremamente marginalizado neste canal dedicado à inovação na mobilidade que é o Agora é Simples.

Dados do Grupo Gay da Bahia apontam que a cada 19 horas um LGBT+ é morto ou tira a própria vida em decorrência da opressão. Mulheres trans e travestis têm apenas 35 anos de expectativa de vida e esse grupo, em especial, está 90% na prostituição, dada as poucas oportunidades que possuem no mercado formal.

Com essas informações fica difícil negar que temos um problema de sexualidade e gênero no Brasil*, sociedade esta que deveria ter como pilar o respeito à dignidade humana e à diferença. Porém, o que vemos são violências corriqueiras em olhares, xingamentos e agressões.

*Se usa as expressões homofobia para ódio direcionado a sexualidades diversas, como gays e lésbicas, e transfobia para o ódio, a aversão e a rejeição de pessoas não cisgênero, ou seja, transexuais. 

O transporte público, tema fundamental desta publicação, é um espaço primordial da vida em cidade e precisa urgentemente acolher as necessidades desse público, entendendo as questões da mobilidade LGBT+.

Entre as ações que estão sendo tomadas e podem vir a ser, estão:

Campanhas educativas e de promoção do respeito

Recentemente uma lei tornou crime a importunação sexual e o transporte público de todo o país adotou campanhas de conscientização. A lei foi inspirada nos casos que repercutiram nos últimos anos de mulheres sendo abusadas e assediadas no transporte público, mesmo sob a luz do dia.

É claro que mulheres já são alvo de violência há muito tempo e precisou de uma mobilização nacional e de uma lei para que houvesse um olhar e um direcionamento comunicacional para esse problema.

Em Belo Horizonte, a Prefeitura Municial, a Guarda Municipal e a BHTrans distribuíram apitos em ações em pontos diversos para estimular a conscientização e a denúncia em casos de assédio. Cartilhas educativas também foram entregues na campanha.

Com a violência homofóbica e transfóbica poder-se aprender que os cidadãos que usam e precisam do transporte público precisam ser ouvidos sobre suas carências, antes que casos absurdos de violência precisem ser o estopim de um projeto de lei formal.

Equipe de segurança preparada

Não é incomum pessoas LGBT+ serem constrangidas em ambientes públicos. Mulheres trans e travestis, por exemplo, são constantemente impedidas de usar banheiros femininos. Igualmente, um ataque homofóbico não pode ser entendido como uma mera briga dentro de um vagão.

Uma pessoa LGBT+ ameaçada pode ser perseguida do lado de fora, sendo que tudo começou lá dentro. A equipe de segurança de metrô, trem e terminais devem estar preparadas para atender casos assim.

Iniciativas pioneiras para a mobilidade LGBT+

Cidadania

Como espaço onde frequenta uma multiplicidade de pessoas, dos mais diferentes lugares e classes sociais, o transporte público é o ambiente ideal para ações pedagógicas e sociais.

A Unidade Móvel da Cidadania LGBT+ da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo faz uma tour desde 2015 por terminais de ônibus da capital. Presta assessoria jurídica, psicológica, pedagógica e de assistência social.

Dados e análise

A 2ª Pesquisa da Diversidade realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope mostrou que 37% dos entrevistados já presenciaram ou foram vítimas diretas de preconceito de gênero ou orientação sexual em espaços públicos e no transporte público. São os lugares mais hostis a pessoas LGBT+ registrados na pesquisa. Escolas o são para 32% das pessoas e 31% em shoppings e comércios. 

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo jogou luz ao problema e foi importante, inclusive, para a motivação deste texto. Isso porque estudos e dados consolidados ajudam a orientação de políticas públicas.

Outros exemplos são o já citado Grupo Gay da Bahia e o grupo Gênero e Número. Este último, em parceria com a Fundação Ford, publicou um estudo comprovando a escalada de violência contra LGBT+ nos últimos tempos. 

Inovação e desenvolvimento

Um aplicativo de carros compartilhados só para LGBTs? Em Belo Horizonte isso é possível. O Homodriver foi pensado justamente para a segurança de passageiros e motoristas.  Ele parte da popularização de Uber e similares que tornou a categoria um meio de transporte essencial na vida de muita gente.

Para a segurança e a geração de dados sobre assédio foi criada a tecnologia Nina. O projeto também vai ao encontro do que LGBTs precisam no transporte público. Afinal, assédio também é um tipo de violência e essas causas não deixam de estar juntas.

A Nina rastreia casos de assédio, a partir de denúncia do usuário e auxilia na  ativação de alertas que garantem o salvamento do conteúdo das câmaras para a investigação policial posterior.

Esse é o primeiro texto de uma série especial do Agora é Simples para o mês do orgulho. Acompanhe o blog para mais artigos sobre a mobilidade LGBT+ e os desafios da inclusão.

O que chatbots podem fazer pela sociedade?

Chatbots brasileiros querem levar informação para usuários da internet.

A maioria dos brasileiros está conectada à internet, segundo dados do IBGE (2016), apesar disso, o acesso a informação relevante não necessariamente acompanha essa evolução. Recentemente, diversas páginas foram derrubadas pelo Facebook acusadas de espalhar notícias falsas. Isso é só a ponta do iceberg.

Pensando no campo da desinformação instalado no país, iniciativas buscam mudar nossa relação com internet e informação por meio de robôs e inteligência artificial. Com isso, tentam garantir acesso fácil à verdade sobre assuntos da vez, leis e direitos.

Já falamos de chatbots em português por aqui, um tema muito pertinente na atualidade. E trazemos para vocês os chatbots que querem tornar as coisas na internet e, por extensão, na sociedade, mais simples e saudáveis.

Fátima: checagem de notícias falsa

A plataforma Aos Fatos criou a robô Fátima, inicialmente no Twitter – em breve estará como um chatbot no Facebook também. A Fátima tem o objetivo de contrapor notícias falsas, identificando e respondendo pessoas que compartilharam boatos no Twitter.

Ao encontrar o link de uma notícia falsa – previamente analisada pela plataforma Aos Fatos – a Fátima dispara um tweet com a informação verdadeira, advertindo o usuário.

Robô Fátima no twitter

Existe a expectativa de que Fátima contribua para uma internet mais democrática e segura durante as eleições de 2018. A intenção é evitar o mar de desinformação que foi a eleição norte-americana de 2016.

Tê: o chatbot da comunidade LGBTI+

O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo, mesmo com a fama de país acolhedor. Segundo o Grupo Gay da Bahia, ONG que produz estatísticas sobre os casos de violência (o estado brasileiro não possui esses dados), em 2017, 445 gays, lésbicas, bissexuais e transexuais foram assassinados no país.

A partir dessa violência generalizada, a startup Todxs criou a chatbot Tê. O objetivo é disseminar informação sobre o assunto e munir pessoas LGBTI+ de seus direitos em todo o país.  

Começe um papo com a Tê na página da Todxs no Facebook. A partir de um oi o chatbot enviará opções para você. Se informe sobre como identificar os tipos de LGBTIfobia e descubra leis que podem te proteger e que criminalizem a LGBTIfobia na sua localidade. Saiba, também, onde existem delegacias especializadas em violência por motivo de ódio.

Outro serviço bacana é o “comunidade”, em que a Tê dá opções de biografia de ícones no LGBTI+ do país. Entre eles, Laerte, Cazuza, Jorge Lafond e João W. Nery.

A Todxs é uma startup social, que tem a missão de empoderar pessoas à margem da sociedade, sendo referência em diversidade e inclusão social no Brasil. Por meio da inovação e do empreendedorismo busca atingir esses objetivos e melhorar a vida de LGBTI+ por aqui, bacana né?

Somos muito entusiastas de tecnologias pensadas no social, e queremos sempre descobrir novos chatbots que fazem a diferença! Conhece mais ideias bacanas como a Tê, Fátima, Beta ou o Bipay? Deixe um comentário que nós vamos escrever sobre!

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