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A preferência pelo transporte público pode ser barrada pela má qualidade do sistema, aponta pesquisa

Pesquisa realizada pelo iCS apontou que a consciência ambiental da sociedade brasileira tem aumentado, o que influencia na preferência para uma mobilidade mais sustentável pelos brasileiros, no entanto, pode haver implicações em decorrência da má qualidade do serviço

Fonte: AdobeStock/Connel_design.

A mobilidade urbana tem sofrido um impacto em decorrência da pandemia, o que causou uma mudança na percepção de brasileiros sobre diversos fatores envolvidos. O Instituto Clima e Sociedade (iCS) divulgou uma pesquisa recente realizada com  2 mil pessoas das cinco regiões do país no início de 2020 a fim de entender a visão da sociedade brasileira sobre o assunto.

Cerca de 42% da população em geral utiliza o ônibus como principal meio de transporte em todas as regiões. Além disso, ao comparar dados de 2017 e 2019, as pessoas brasileiras têm apresentado maior consciência ambiental e preferência para adoção de meios mais sustentáveis para locomoção com o decorrer dos anos.

Para mais, os carros foram apontados como a principal causa da poluição por 42% das pessoas entrevistadas, seguido por indústrias (19%). Essa percepção confere com as estimativas do Banco de Dados de Emissões para a Pesquisa Atmosférica Global, o qual levantou que as principais fontes de poluição atmosférica no Brasil provêm do setor de transportes, processos industriais e queima de biomassa.

No entanto, embora haja uma tendência ao uso de ônibus elétricos e modais públicos por parte da população, a insatisfação com a qualidade dos ônibus aumentou. A população que não trocaria o carro para o uso de transporte público indicou como motivo principal o conforto (26%) e praticidade (20%) do automóvel particular.

Além disso, a pesquisa traz uma associação espontânea a termos negativos ao transporte público como “superlotação” (de 2% das pessoas para 8% em 2020), “ruim” (5% para 8%), “péssimo” (6% para 9%), “caos” (4% para 7%) e “caro” (2% para 4%). De acordo com Cristina Albuquerque, gerente de mobilidade do WRI Brasil, esses dados são um indício de que é necessário investir na qualidade do transporte público nas cidades. 

“Isso mostra a importância de se garantir mais conforto e qualidade para os modos sustentáveis, em especial para os ônibus”.

Cristina Albuquerque.

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Medidas para criação de um transporte mais sustentável

Relatório “Transporte para menos de 2 graus” compreende opiniões de especialistas, empresas, ONGs e governos para a transformação do setor de transporte mais sustentável

O projeto Transport for Under Two Degrees (T4<2°), ou “Transporte para menos de 2 graus”, é um estudo prospectivo global sobre a descarbonização e transformação do setor de transporte. O objetivo é identificar desafios e oportunidades para um setor de transporte sustentável e de baixo carbono.

O projeto compactua com as propostas do Acordo de Paris, o qual firma compromisso que o aumento da temperatura média global não ultrapasse 2°C, e é apoiado pelo Fórum Econômico Mundial e pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

Assim, o projeto T4<2º, que está em desenvolvimento há dois anos, resulta no relatório Way Forwad, baseado em estudos já existentes e novas entrevistas qualitativas. As entrevistas foram realizadas em conjunto com especialistas internacionais do setor de transportes e energia, além da participação de empresas, ONGs e governos. 

O relatório, divulgado no começo de outubro de 2020, há recomendações específicas dos especialistas sobre como alcançar a descarbonização do setor e empenhar esforços internacionais para uma transformação do sistema de transporte. 

Em relação à pandemia de Covid-19, o estudo aponta que em decorrência do declínio da atividade de transporte – e da produção industrial baseada em combustíveis fósseis -, houve melhoria da qualidade do ar e queda nas emissões de gases de efeito estufa. 

“As respostas ao COVID-19 têm mostrado o potencial de uma eventual mudança sistêmica no setor da mobilidade”

– Comitê de Direção do T4<2°.

No entanto, muitos passageiros ficaram com medo de utilizar o transporte público e voltaram aos carros. Assim, de acordo com o relatório, as mudanças positivas para a sociedade só serão realmente implementadas se houverem esforços de recuperação planejados principalmente por tomadores de decisão, ou seja, políticos.

Dessa forma, sabendo que o transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, as projeções indicam que o setor pode ultrapassar o dobro de suas emissões atuais até 2050 se os negócios continuarem como hoje. Logo, especialistas sugerem que a descarbonização total do setor até 2050 tenha colaboração conjunta de países desenvolvidos e subdesenvolvidos para trabalhar na inclusão social e desempenho econômico.

No debate público sobre o temas, a descarbonização do transporte está frequentemente associada a uma potencial perda de empregos. Porém, dois terços dos especialistas internacionais acreditam que haverá criação de empregos principalmente no setor de transporte, no setor industrial, no desenvolvimento de novas tecnologias, no setor de energia renovável, em serviços digitais, além de empregos na área de turismo.

No entanto, no que se refere ao consumo de energia por veículo, especialistas indicam que deve haver uma tecnologia mais eficiente e renovável para cada meio de transporte. Para isso, as energias eólica e solares são apontadas como promissoras para tornar a transformação do transporte um sucesso.

“A atual capacidade mundial de energias renováveis é insuficiente para atender às metas de eletrificação do transporte; o desenvolvimento de novas energias renováveis é fundamental”

– Líder sênior, no Fórum Global de Energia.

O relatório também aponta que o transporte público, os meios de transporte ativos, os serviços de mobilidade compartilhados, bem como o planejamento urbano sustentável serão a espinha dorsal do transporte urbano ecologicamente correto. Portanto, há de haver investimentos nesse setor com promoção da mobilidade ativa e compartilhamento de transporte. 

Um ponto interessante indicado por especialistas e instituições é a digitalização e condução autônoma. A maioria destes apostam que essas ações auxiliam na redução das emissões de gases de efeito estufa, como implantação de veículos autônomos no transporte rodoviário de passageiros.

Dentre esses e outros insights indicados no relatório, todos eles indicam que, sem governança e apoio de políticas públicas, não haverá uma mudança estrutural que possa atingir o objetivo até 2050. Estes e outros apontamentos podem ser encontrados em detalhes no site do projeto

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