Segundo artigo da série sobre a estrutura de sistemas de transporte por Rafael Pereira, colunista do Agora é Simples
Para que você se situe é muito importante que veja o artigo anterior.
Saudações,
Estava me sentindo tão “distante” de vocês, confesso que com todo esse turbilhão de acontecimentos (que deixará marcas irreversíveis em nossa sociedade) tive um pequeno bloqueio em minhas inspirações e aspirações intelectuais. Porém, tal fato corroborou para o desenvolvimento do nosso presente tema, deixo abaixo alguns questionamentos para que você reflita, suas dúvidas irão favorecer na absorção do assunto.
Você sabia que um brasileiro comum leva em média 1h 20m para deslocar – se ao seu destino, partindo de sua origem? E que em média utilizam de três a quatro meios de transporte para chegar no seu destino final? Pesquisas do site Diário do Transporte apontam que 60% das pessoas estão evitando o transporte público, desses 39% estão utilizando veículos próprios e 48% utilizam aplicativos de transporte ou táxi, e houve um aumento de 10% na utilização de bicicletas.
Não quero apavorá-los, mas dados do IBGE apontam que os deslocamentos pendulares entre municípios tendem a crescer exponencialmente devido a atual mudança geográfica industrial e tecnológica. Agregando esses dados, quero lhe dizer:
A realidade é nua e crua, estamos longe de saber quais serão as consequências pós-pandemia e como elas nos afetarão, o nível de passageiros no transporte público está longe de alcançar o total de sua capacidade e, em algumas cidades, o percentual transportado não alcança 30% de sua totalidade. Com o aumento dos meios de transportes alternativos aliados a tecnologia, a tendência é ladeira abaixo, o que nos remete a buscar novos meios de fomentar novas estratégias e adequá-las a atualidade. Assim, com base no descrito acima, vamos falar de First Mile e Last Mile.
Você já ouviu falar do problema da primeira e última milha?
First / Last Mile ou Primeira e Última Milha é uma estratégia de dividir em etapas o transporte de cargas no ramo de logística, todavia essa teoria vem sendo aplicada no transporte público de pessoas. Muito pouco conhecido no Brasil, vem despontando ótimos resultados no exterior e readequando a estrutura em malha e a integração de diferentes meios de transporte e locomoção de pessoas.
Vamos entender o conceito de forma simples.
A viagem de uma pessoa nada mais é do que o percurso da origem ao destino final. Partindo dessa premissa, entende-se que essa mesma pessoa pode utilizar vários modos, tipos ou modais de transporte para concluir seu deslocamento como caminhar, dirigir, pilotar ou utilizar um meio de transporte público ou alternativo.
Porém, sempre haverá um meio de transporte a qual ele será o principal integrador, ou seja, a milha principal que integra os pontos de origem ou Midde Mile, traduzindo Milha média. Normalmente costumam ser veículos de grande porte com capacidade de deslocar várias pessoas a grandes distâncias como ônibus, articulados – bi, metrôs e trens, são estruturas que são bem estabelecidas nas grandes cidades passando por redes viárias ou ferroviárias, nada fora do habitual entendido que o principal problema não prevalece na média milha.
Com a expansão da urbanização, falta de investimentos na estruturação dos bairros mais afastados das grandes cidades, permeiam as dificuldades para promover um deslocamento eficiente para as pessoas nessas regiões, aí que mora o problema das milhas…
First Mile
Nada mais é do que o deslocamento do individuo até o inicio do principal núcleo de viagem, conforme imagem abaixo:
Na atualidade, todo o movimento do indivíduo mudou, muitos poucos estão se deslocando de suas residências, afinal, ainda estamos “pandêmicos”, e aqueles que se deslocam, preferem utilizar meios de transporte individuais como Uber, Bicicletas, e em algumas cidades existe um alto índice de adeptos de Patinetes. Existem empresas de tecnologia inserindo esses tipos de veículos nas áreas periféricas das grandes cidades no nosso pais, além da famosa caminhada. Em um país com índices exorbitantes de sedentários e obesos, as caminhadas estão calhando bem.
Enquanto isso, viações de transporte público, ao invés de identificar os gargalhos estruturais pré-existentes, buscar por novos meios de atender a demanda restante (quase nada) e buscar novos destinos, seccionamentos, tecnologias e integrações de linhas, fazem o contrário, se escondem atrás de guardas chuvas contratuais e diminuem cada vez mais o serviço estipulado em concessão sem ao mesmo buscar melhorias, são adeptos do famoso reduzir custos sem planejar de forma eficaz, sem pensar fora da caixinha.
Não fiquem assustados, mas o problema da Primeira milha vai acabar com muitas linhas de ônibus, principalmente as do tipo alimentadoras. E reitero, muitas viações irão perecer aos novos meios de deslocamentos, fato consumado, apenas os mais evoluídos permanecerão.
Last Mile
É o deslocamento do indivíduo a partir do desembarque do principal núcleo de viagem, conforme imagem abaixo:
Com alto custo para manter um escritório ou uma indústria em zonas centrais, a descentralização das zonas urbanas é algo natural que irá ocorrer, e com a migração dos empregadores para as cidades com melhores incentivos fiscais ou que obtenham benefícios estratégicos para suas operações. Com isso, os grandes polos de demanda e eixos de emprego tendem a diminuir, mudando toda a rede estrutural do transporte público.
Antes, transportar pessoas era uma tarefa um tanto quanto fácil no Last Mile, um exemplo clássico na Cidade de São Paulo: “Não sei de onde as pessoas vieram, mais só sei que as encontro na Praça da Sé”. É fato que o destino mais procurado é aonde está a concentração de empregos e tendem a calhar com o fluxo natural das linhas troncais.
Porém o que se observa é que a estruturas das Redes que atualmente são Radiais e levam o individuo do bairro ao centro urbano, tendem a se reestruturarem em Redes em Malha com uma distribuição uniforme dos individuo pelos bairros e cidades. Esse movimento fomenta o aumento de linhas Diametrais e Perimetrais, visando sempre a interação com outras localidades, passando ou não pela região central. As empresas que não identificarem esse movimento em suas operações, provavelmente irão perder oportunidades diversas para outros meios de transporte ou até para empresas concorrentes no mercado.
Bom, chegamos ao fim da prosa, espero ter agregado conhecimento à todos, entretanto advirto que esse assunto é muito mais amplo do que parece e quem tiver interesse busque mais informação sobre. É enriquecedor e esclarecedor se tratando de planejamento estrutural, porém 90% do que tem disponível está na língua inglesa.
Deixo aqui meu recado: Observe os movimentos tecnológicos, acompanhem as novas tendências, o passageiro agora é cliente, ele tem diversas escolhas e busca qualidade.
Os textos de colunistas são de sua inteira responsabilidade e não expressam a opinião do Agora é Simples e seu corpo editorial.
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