Enquanto o transporte público enfrenta crise, o número de viagens por aplicativo e o uso de carro particular aumenta, o que empresas e prefeituras estão fazendo para salvar o setor nesse momento?
A queda de passageiros é um problema que já vinha sendo enfrentado pelas empresas de transporte público, porém, com a quarentena, isso se intensificou. Para complementar, nesse momento, o Brasil se encontra em uma nova onda de casos e as medidas restritivas para combate ao vírus impactou ainda mais o setor.
Em São Paulo, a frota de ônibus da cidade atende 61% da demanda em comparação com o período anterior à pandemia. Em Curitiba, o número de passageiros caiu 24% em uma semana. No Rio de Janeiro, o serviço que antes atendia 75 milhões de pessoas por mês, chegou a cair para 25 milhões. Em Belo Horizonte, a queda no número de passageiros foi de 36,7% de fevereiro a dezembro de 2020.
Em contraste, o número de viagens de transporte por aplicativos deu um salto. Pesquisa realizada pela 99, empresa e aplicativo de transporte individual, aponta que 55% dos moradores de bairros periféricos de seis capitais brasileiras passaram a utilizar o transporte por aplicativo com maior frequência. Conjuntamente, a pesquisa do DataFolha apontou que 35% dos brasileiros que não possuem veículo próprio acreditam que o transporte por aplicativo é o meio de locomoção mais seguro na pandemia.
A partir do levantamento do motivo na preferência pelo uso do aplicativo de transporte, os entrevistados apontaram principalmente a aglomeração (29%), a segurança (20%) e o risco de contaminação (14%) como os critérios mais importantes. No entanto, já foi comprovado que o transporte público não é o principal vetor da Covid-19.
Além disso, embora o mercado de vendas de carros tenha sofrido retração no ano passado, o de aluguel ganhou visibilidade. De acordo com Paulo Miguel Jr., presidente da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis, “a pandemia serviu para incentivar muito mais o mercado de locação, que já era um mercado em crescimento“.
Com o crescente uso do transporte privado, as problemáticas em decorrência do tráfego, segurança e poluição aumentam também. Logo, as empresas e prefeituras devem buscar por novas medidas para restabelecimento do transporte público a fim de devolver a confiança do serviço a partir de aumento da frota, capacidade máxima de passageiros, condições de ventilação e protocolos de segurança nos ônibus, além de buscar por novas fontes de financiamento para o setor.
Para isso, algumas cidades já têm apresentado resultados positivos, como a Prefeitura de Manaus que reforçou a fiscalização e aumentou a frota dentro dos terminais para evitar aglomeração. Em Maringá, o Tribunal de Contas do Estado fez seis recomendações para melhorar o transporte público na cidade e uma delas é a definição de subsídio ao transporte coletivo em três meses. Em Uberaba o subsídio já está sendo discutido pela prefeitura. Entre outros municípios que implantaram um sistema de horários e escalonamento no comércio e empresas para evitar a aglomeração no transporte.
Concomitantemente, em Belo Horizonte, os caminhoneiros estão de greve a favor da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide sobre o preço do óleo diesel e isso pode acarretar no desabastecimento em grande parte dos postos e estabelecimentos. Sem combustível, a situação do transporte público também tende a piorar.
Segundo Joel Paschoalin, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), o novo aumento do preço do óleo diesel pode gerar fechamento das empresas de transporte. Além disso, a estimativa é que a greve afete 600 mil pessoas do sistema metropolitano da região.
“As empresas não têm condição de pagar o diesel nesse preço e o que vai acontecer é acelerar o processo de fechamento ou diminuição do nível de serviço. Não tem como a gente pagar um valor desse”
explicou o presidente do SetraBH.
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