Enquanto ônibus, trem e metrô perdem preferência, uso de transporte individual aumenta, mas acesso é limitado para as classes mais baixas
A Rede Nossa São Paulo, organização da sociedade civil, divulgou nesta quinta-feira, 15 de outubro, a pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana”. Em parceria com o Ibope Inteligência, a pesquisa tem como objetivo identificar as tendências de deslocamentos da população de São Paulo para auxílio na elaboração de políticas públicas.
Numa análise temporal, o tempo médio gasto por deslocamento dos paulistanos diminuiu 14 minutos comparado ao ano anterior. Vale ressaltar que a diferença entre o tempo gasto de pessoas que utilizam carro todos os dias e daqueles que utilizam transporte público é de apenas 25 minutos, diferença pequena imposta principalmente devido ao congestionamento existente na grande São Paulo.
Em meio à pandemia de Covid-19, a pesquisa aponta que 35% dos paulistanos não estão saindo de casa para realizar atividades principais do dia-a-dia, o que envolve trabalho e estudo. Isso se deve ao fato de que mais de um terço das pessoas estão trabalhando ou estudando em casa devido ao isolamento social imposto pela pandemia.
Contudo, essa proporção difere ao analisarmos a situação econômica dos entrevistados, indicando que quanto maior a renda e escolaridade, menos as pessoas saem de casa. Como consequência desse cenário, mesmo ainda sendo o meio de transporte mais utilizado, a queda no uso dos ônibus é notória, de 47% das viagens em 2019 para 35% agora. Enquanto isso, viagens a pé e por carro aumentaram.
É a primeira vez, desde o início da série histórica em 2017, que mais pessoas andam de transporte individual (carros próprios e sob demanda, táxis, bicicletas e a pé), do que transporte público (trem, metrô e ônibus)
Tratando dos motivos que levam a escolher outro modal, o medo de contrair o novo coronavírus aparece como fator preponderante, logo atrás estão a possibilidade de usar o carro e encontrar veículos de transporte público lotados.
Entre as pessoas entrevistadas que utilizam o transporte público 5 dias na semana ou mais, destacam-se as que compreendem classes DE (30%), regiões Leste (26%) e Norte (25%). Conjuntamente, os grupos que mais citam lotação como um problema atual são grupos da classe DE (37%) e da Região Sul (35%).
Além disso, realizando uma análise para o pós pandemia, o medo de andar de transporte público continua. Os principais pontos citados no levantamento que justificam a preocupação são os ônibus continuarem superlotados, haver aumento no valor da tarifa de transporte, congestionamentos e aumento no preço da gasolina.
Considerando as atividades de lazer, grande parte da população deixou de utilizar o transporte público como modo de locomoção para esse fim. O motivo disso é principalmente o valor da tarifa de ônibus.
A preferência pelo uso do carro também diminuiu
Embora tenha aumentado os deslocamentos por carro em 2020, o uso diário deste meio está menos frequente em comparação com o ano anterior. Em relação ao ano anterior, a frequência do automóvel caiu de 31 para 28%. Nota-se ainda que o uso é menor quanto menor for a classe social, a renda e a escolaridade.
Por outro lado, deslocamentos a pé tiveram aumento de 7%, entre viagens diárias até corriqueiras, e bicicletas tiveram aumento de 3% na cidade.
A região Sul foi a que mais se destacou na diminuição do uso do carro, com queda de 18 pontos percentuais. A região Sul apresenta renda média mensal 25% menor do que a média da cidade e, de acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em setembro houve uma variação de 0,98% nos preços para população mais pobre, enquanto para a classe mais rica, apenas 0,29%.
Esses dados reforçam o impacto da pandemia na classe mais baixa da população. A metade mais pobre da população brasileira perdeu 27,9% de sua renda, enquanto os 10% mais ricos perderam 17,5%. Com isso, a classe mais atingida teve que tomar providências, vendendo ou deixando de usar o automóvel.
Porém, dos entrevistados que já utilizavam o carro antes da pandemia, a pesquisa indicou aumento na frequência de uso, sendo que a pandemia foi a grande impulsionadora. O perfil das pessoas que relataram esse aumento se encontra na faixa de 16 a 44 anos e moradores da região Leste de São Paulo.
Em contrapartida, essas pessoas que não deixaram de andar de carro na cidade de São Paulo deixaria de utilizá-lo caso houvesse uma boa alternativa de transporte público. Para isso, as melhorias que deveriam haver no transporte para chamar atenção destes seriam principalmente melhorias na ventilação (para diminuir o risco de contágio do coronavírus) e das condições físicas do transporte.
Confira a pesquisa completa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana”
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